O PT quer ser um partido diferente da maioria dos demais partidos brasileiros. Ele tem pretensões a um novo projeto para a sociedade e uma nova cultura cívica. Mas todas as suas campanhas eleitorais, particularmente a última, de Eduardo Suplicy, foram campanhas personalistas, que em nada procuraram contribuir para informar e educar a população, nem para promover a legenda.
O cinema ocupou um lugar central no pensamento de Mário de Andrade. Amar, verbo intransitivo, em particular, é pontuado de referências ao cinema, além de ter sido qualificado, pelo próprio autor, como sendo um romance “cinematográfico”. Mas apesar de esse interesse pelo cinema ter permanecido vivo por toda sua vida, Mário de Andrade deu pouca atenção ao cinema brasileiro.
Os autores focalizam a evolução do PT nos anos 80 e, a partir deste quadro de referência, analisam a eleição de Luiza Erundina para a prefeitura de São Paulo. Indicam que nos primeiros tempos de governo foram exaltadas as reivindicações das associações populares enquanto matéria prima para tomada de decisões. Contudo, esta ênfase nos grupos organizados e, portanto, minoritários, ê substituída por um estilo de gestão que passou a privilegiar o poder executivo enquanto instância de negociação de múltiplos e divergentes interesses presentes na Metrópole. Mostram também que foi esta mudança nas formas de governar que possibilitou a reversão das prioridades públicas. Por fim, os autores indagam se a experiência do PT aponta para novos modos de equacionar a relação entre Estado e Sociedade no âmbito municipal e sugerem que o principal legado da administração petista tenha sido o resgate da tradição republicana e democrática.
A economia internacional passa atualmente por um importante processo de transição, dirigida, por um lado, por uma mudança no alcance e na natureza da competição internacional; por outro, por uma mudança na organização da produção, da produção em massa para a chamada produção flexível de alto volume. Atingidos primeiro por essas mudanças, os Estados Unidos adotaram políticas inadequadas de enfrentamento do novo cenário. A Europa, que só agora começa a sentir mais fortemente o impacto desse processo, pode tirar lições importantes da experiência norte-americana, evitando a repetição de seus erros.
No atual debate a respeito do plebiscito sobre a forma e sistema de governo, a história política recente não é devidamente tomada em conta. Desde a revolução democrática desencadeada pela vitória dos senadores do MDB nas eleições de novembro de 1974, milhões de novos eleitores foram incorporados à cidadania, se manifestando sempre – nas ruas e nas urnas – para estabelecer a soberania popular sobre o Executivo federal consubstanciado no mandato presidencial. Esse processo configura uma prática democrática assimilada pela opinião pública, pelo eleitorado e os eleitos nacionais.
O artigo sustenta que a discussão sobre o sistema de governo deve partir da experiência concreta do presidencialismo no Brasil no pós-30. O sistema presidencialista foi importante para promover a modernização econômica, mas dificultou a consolidação da democracia. Nas circunstâncias presentes, o parlamentarismo pode ser mais adequado para o estabelecimento de um Executivo fone, dotado de base parlamentar sólida. Ademais, as reformas políticas – eleitoral, partidária e da representação no Congresso-terão mais probabilidade de vingar com a mudança do sistema de governo. O parlamentarismo é hoje uma alternativa política real, já que é defendida por grupos importantes das elites políticas, intelectuais, sindicais e empresariais.
O artigo analisa as relações entre o movimento favelado e o poder público a partir da experiência de urbanização de favelas em Belo Horizonte no início dos anos 80. Após discutir as limitações da matriz teórica que inspira a maior parte da produção acadêmica sobre os movimentos sociais urbanos na década de 70, o autor conclui que parte da responsabilidade pela desarticulação do movimento favelado e dos programas “participacionistas” em Minas Gerais cabe às chamadas forças progressistas instaladas no aparato público após a eleição de Tancredo Neves para o governo do estado.
O artigo tem como objetivo discutir, do ponto de vista da divisão sexual do trabalho, os impactos da nova tecnologia microeletrônica sobre a divisão e a organização do trabalho, analisando as recentes abordagens da sociologia do trabalho sobre o tema e reunindo algumas indicações sobre como está se dando a modernização da estrutura industrial brasileira a partir dessa perspectiva. Segundo a autora, o estudo das qualificações, das trajetórias ocupacionais e das formas de gestão passa pela articulação problemática da divisão sexual do trabalho com a categoria gênero, que lhe confere a dimensão histórico-social essencial para um real aprofundamento da questão.
Desenvolvendo critérios para caracterizar e avaliar os desempenhos dos sistemas de governo no mundo contemporâneo, o autor conclui que os sistemas mistos, onde o poder é compartilhado entre o executivo e o parlamento, têm se mostrado mais eficazes e estáveis do que o presidencialismo ou parlamentarismo “puros”. Neste sentido, sublinha-se a importância do contexto específico do sistema eleitoral, do sistema partidário e da cultura política. Ao considerar o caso brasileiro, o autor pondera que a estrutura partidária e o caráter da cultura política não se adaptam à adoção do parlamentarismo.
A idéia-síntese de “Novo Mundo”, que Vespucci afirma, é uma noção negativa para salientar a constituição inédita das terras e povos descobertos. Já o messianismo de Colombo, sua crença no achado de um acesso terreno ao Paraíso, não é exceção; inclui-se num conjunto de interpretações fabulosas, de acordo com modelos literários então vigentes. Como explicar o triunfo da noção de “Novo Mundo”, apoiada apenas no debate de idéias e na persuasão dos leitores – à revelia de todos os pareceres eclesiásticos e oficiais, bem como da tradição? A hipótese exposta apresenta a idéia de Vespucci como o resultado, tipicamente renascentista, de uma polêmica contra a episteme escolástica. Nesta chave, tal noção, própria à afirmação renascentista da imanência, encontra-se em consonância com rupturas cognitivas operadas por outros pensadores do período, como Maquiavel e Galileu.
O autor define e examina a institucionalização e a centralização interna do Partido dos Trabalhadores-PT como aspectos do seu processo de burocratização. Ao mostrar como esse processo dependeu da herança institucional recebida das forças políticas não partidárias presentes na fundação do partido, analisa os desdobramentos contraditórios dessa dependência, aponta suas vantagens e discute suas limitações, concluindo que o projeto político do PT está ameaçado por distorções oriundas dos seus próprios êxitos.
O autor diverge das teorias dominantes sobre a relação entre os setores formal e informal das economias do Terceiro Mundo, ressaltando o impacto da adoção de garantias trabalhistas sobre o desenvolvimento nacional. Sugere que os países de Terceiro Mundo adotem leis trabalhistas compatíveis com a realidade de suas economias.
Reflexões Sobre a "História da Sexualidade" de Foucault
Michel Foucault recusa, em sua História da sexualidade, qualquer análise causal das ações e atitudes humanas. O texto discute em particular o segundo e o terceiro volumes desta obra – “L’usage des plaisirs e Le souci de soi” -, onde Foucault trata dos gregos e dos romanos da Antiguidade.
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Reflexões Sobre a "História da Sexualidade" de Foucault
Reflexões Sobre a "História da Sexualidade" de Foucault
Analisando os resultados da eleição para a prefeitura da cidade de São Paulo em 1992 e comparando-os com os das eleições anteriores, os autores observam que a expansão do voto malufista e a viabilidade eleitoral do PT têm modificado o perfil do eleitorado de direita na capital em relação ao padrão verificado ao longo da década de 80. As maiores taxas de voto malufista se encontram hoje nos bairros mais ricos de São Paulo, o que relembra a curva de votação da Arena nos anos 70.
Poucos dias antes de seu desaparecimento, em outubro de 1992, Severo Gomes deu um depoimento sobre o processo de abertura política no Brasil, num curso sobre transição política e autoritarismo, realizado no Departamento de Ciência Política da USP. O texto que aqui se publica, revisado e apresentado por Paulo Sérgio Pinheiro, é a transcrição dessa que viria a ser a última conferência proferida por Severo Gomes.