Apresentação. Os jovens brasileiros e o trabalho: desafios que se atualizam
Nadya Araujo Guimarães
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030001
O tema da inclusão de jovens no trabalho tem gerado extensa literatura em distintos campos, como a economia, a sociologia, a educação, a demografia, as políticas públicas, para citar apenas algumas áreas em que essa produção tem sido mais densa. E não sem razão. Seja pela rapidez com que alterações na dinâmica econômica e nas políticas públicas se refletem nas chances ocupacionais e na qualidade das oportunidades abertas aos jovens (Freeman; Wise, 1982; Gregg; Tominey, 2005; Eliason; Storrie, 2006; Cruces; Ham; Viollaz, 2012; Corseuil; Franca, 2015; Mont’alvão; Ribeiro, 2020), seja pelo efeito mais alargado que tais impactos deixam para a dinâmica das famílias e dos domicílios, vistas as transições de natureza emográfica e educacional em jogo nesse momento do ciclo de vida (Carneiro; Knudsen; Osório, 2002; Hasenbalg; Silva, 2003; Camarano, 2006; Heilborn; Aquino; Knauth; Bozon, 2006; Billari; Liefbroer, 2010), seja ainda pelo resultado desses processos para as expectativas, representações, chances e modos de vida dos próprios
jovens (Shavit; Blossfeld, 1993; Shavit; Müller, 1998; Roksa; Velez, 2010; Torche; Ribeiro, 2010; Hasenbalg; Silva, 2003), todas essas são razões suficientemente relevantes para fazer deste um dos temas
candentes na agenda acadêmica e das políticas públicas.
Trajetórias e transições entre jovens brasileiros: pode a expansão eludir as desigualdades?
Nadya Araujo Guimarães, Murillo Marschner Alves de Brito e Alvaro Augusto Comin
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030002
Que podemos dizer sobre as desigualdades estruturais no Brasil quando as observamos pela lente das trajetórias ocupacionais dos jovens? Em contextos de crescimento econômico e de ampliação de direitos, que fatores se mostram relevantes para tornar desiguais os destinos dos jovens brasileiros? Neste artigo, buscamos responder a essas perguntas baseando‑nos em dados longitudinais de um survey amostral retrospectivo realizado em 2013, com uma amostra representativa de 3.288 jovens em 160 municípios brasileiros.
A inserção dos jovens brasileiros no mercado de trabalho num contexto de recessão
Carlos Henrique L. Corseuil, Maíra P. Franca e Katcha Poloponsky
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030003
O artigo descreve as mudanças nas condições de inserção dos jovens no mercado de trabalho associadas à abrupta mudança no cenário econômico a partir de 2015. Voltamo‑nos a aspectos quantitativos relacionados a mudanças no (des)emprego e a qualitativos relacionados ao tipo de ocupação. Por fim, identificamos os determinantes para as mudanças citadas, analisando indicadores baseados em fluxos dos jovens entre
diferentes estados do mercado de trabalho.
Estudar e trabalhar: um olhar qualitativo sobre uma complexa combinação nas trajetórias juvenis
Helena Wendel Abramo, Gustavo Venturi e Maria Carla Corrochano
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030004
Este artigo analisa diferentes modos de viver e significar a experiência simultânea de estudar e trabalhar, emblemática da condição juvenil no Brasil. Partindo de estudos sobre os nexos entre escola e trabalho, apresenta dados de pesquisa qualitativa realizada com 32 jovens de camadas populares da Região Metropolitana de São Paulo. Os resultados evidenciam múltiplos e complexos fatores envolvidos nessa combinação, destacando-se diferenças em relação ao momento da vida juvenil e à etapa da escolarização.
Diferentes vulnerabilidades dos jovens que estão sem trabalhar e sem estudar: como formular políticas públicas?
Enid Rocha, Joana Costa, Claudia Barbosa e Silva, Anne Posthuma e Luiz Antonio Caruso
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030005
Tendo em vista os diferentes contextos e transições nas vidas dos jovens, este artigo analisa as vulnerabilidades daqueles que se encontram sem trabalhar e sem estudar, a partir de dados empíricos produzidos com jovens de Recife. Com base nisso, o artigo discute como o reconhecimento das diferentes vulnerabilidades pode contribuir para a formulação de políticas públicas mais adequadas para os jovens que se encontram nessa situação.
Homenagem: A persistência das escolhas morais e intelectuais de Lúcio Kowarick
Adrian Gurza Lavalle and Eduardo Marques
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030006
Um diálogo profundo e crítico de Lúcio Kowarick consigo e sua geração, em busca do compromisso que ancorou suas indagações mais persistentes, bem como da origem e do desenvolvimento de sua principal contribuição à sociologia urbana. Eis a riqueza do precioso manuscrito que Lúcio entregou à Novos Estudos sem que soubéssemos que seria o último aporte em uma longa trajetória iniciada na primeira metade dos anos 1970.
Longe de um exercício memorialístico — algo que a obra e a idade do autor poderiam ensejar —, o escrito revisita com parcimônia o passado, com intuito propositivo. Nele, o leitor comparece não propriamente como destinatário, mas ao modo de um espelho que, em leitura retrospectiva, permite refletir a luz para tecer relações, introduzir ênfases e reiterar correções em diálogo que o autor trava consigo mesmo. Por isso, não há concessões ao leitor nem passagens propedêuticas. A trajetória fica implícita, e informações contextuais são elusivas. Atenta‑se apenas a elementos fundamentais: experiências que vincaram fundo nas escolhas morais e intelectuais, o cerne conceitual de seu diagnóstico sobre a relação entre desigualdade social e dinâmicas urbanas, e um problema recorrente na obra de Lúcio que, em sua autoavaliação, não recebera resposta satisfatória dele e de sua geração.
Sobre a construção de um instrumento de análise: a espoliação urbana
Lúcio Kowarick
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030007
É procedente afirmar que São Paulo estrutura‑se numa “urbanização anômica”, no sentido de ser destituída de diretrizes que permitam uma ocupação racional do espaço urbano. Ao contrário, a ausência do poder público libera as forças do mercado, tendo por consequência a produção de novas periferias destituídas de serviços básicos: a fronteira urbana é constantemente ampliada e marcada por intenso crescimento populacional cuja localização no território da cidade e de sua região metropolitana situa‑se em crescentes aumentos nas horas que ligam o domicílio ao local de trabalho.
Uberização e juventude periférica: desigualdades, autogerenciamento e novas formas de controle do trabalho
Ludmila Costhek Abílio
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030008
A uberização é definida como novo tipo de controle e gerenciamento do trabalho associado a um processo de informalização, que leva à consolidação do trabalhador sob demanda. A partir do trabalho de bikeboys e motoboys, discute‑se a participação de jovens negros nesse tipo de trabalho, à luz do gerenciamento algorítmico e do controle centralizado de modos de vida periféricos. Analisam‑se as condições de trabalho
dos entregadores e sua organização política durante a pandemia de Covid‑19.
Are the SUS and the Right to Health Incompatible with Universal Health Coverage? Challenging Misconceptions Around the Concept of UHC in the Public Health Scholarship in Brazil
Daniel Wei Liang Wang
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030009
The literature on public health in Brazil has criticized the idea of universal health coverage (UHC), arguing that UHC is incompatible with the universal health system and the right to health. This article assesses that criticism and concludes that it creates a “strawman” argument. The idea of uhc that is being criticized in Brazil bears little similarity to the concept of uhc promoted by international organizations and discussed in the international literature.
A literatura sobre Saúde Coletiva no Brasil tem criticado a ideia de cobertura universal de saúde (UHC) porque UHC preconizaria um modelo de saúde incompatível com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com o direito à saúde. Este artigo analisa os fundamentos dessa crítica e conclui que ela se sustenta em uma “falácia do espantalho”. A ideia de UHC à qual os críticos se opõem guarda pouca semelhança com a ideia de UHC defendida por organizações internacionais e discutida na literatura internacional.
Are the SUS and the Right to Health Incompatible with Universal Health Coverage? Challenging Misconceptions Around the Concept of UHC in the Public Health Scholarship in Brazil
O sus e o direito à saúde são incompatíveis com a cobertura universal de saúde? Críticas e equívocos a respeito da UHC na literatura em saúde pública no Brasil
Piketty’s “Capital et idéologie”: Could it Inform a Tax Reform in Post-Covid-19 Brazil?
Celia Lessa Kerstenetzky e Fábio Domingues Waltenberg
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030010
In the light of Piketty’s Capital et idéologie, this article reflects on Brazil’s regressive tax structure and the crises induced by the Covid-19 pandemic. We present programmatic aspects of the book, anticipating how its tax justice proposals would be received in the Brazilian public debate. We question whether the current crises provide an opportunity for discussing structural changes like the reversal of the Brazilian tax structure.
À luz de Capital e ideologia, de Piketty, refletimos sobre a estrutura tributária regressiva do Brasil e as crises provocadas pela pandemia de Covid-19. Apresentamos aspectos programáticos do livro, antecipando como as propostas de justiça tributária seriam recebidas no debate público brasileiro. Questionamos se as
crises atuais oferecem uma oportunidade para discutir mudanças estruturais, como a reversão da estrutura tributária brasileira.
When the Party Accused of a Crime is the President: the Federal Public Prosecutor’s Office and the US “ad hoc” Prosecutor
Fábio Kerche
http://dx.doi.org/10.25091/s01013300202000030011
This essay analyzes the prosecution models espoused in Brazil and in the us when the accused party is the president. Both the head of the Brazil’s Federal Public Prosecutor’s Office and the American prosecutor, ad hoc, were given a high degree of autonomy, which was reduced after scandals. Between the “autonomy to fight corruption” or “stability in the political system”, the latter prevailed after experiments with autonomous prosecutors.
O ensaio analisa os modelos de promotoria adotados no Brasil e nos Estados Unidos quando o acusado é o presidente. Tanto o procurador-geral da República quanto o promotor ad hoc norte-americano experimentaram alto grau de autonomia que foi reduzida após escândalos políticos. Entre autonomia para combater a corrupção ou estabilidade para o sistema político, prevaleceu a segunda opção após experimentos com promotores autônomos.
Whether by the logic inherent of the artistic sphere, centered between Paris and Rome, or by the feeling of foreigners in their own country, artists of more than a generation moved to Europe on successive journeys. In many cases, winning public orders played a decisive role. The article deals with how Belmiro de Almeida managed to sustain an artist’s life between Brazil and Europe.
Seja pela lógica inerente à esfera artística, centralizada entre Paris e Roma, seja pela sensação de estrangeiros na própria pátria, artistas de várias gerações deslocaram‑se para a Europa em sucessivas viagens. Em muitos casos, a conquista de encomendas públicas teve papel decisivo. O artigo trata de como
Belmiro de Almeida conseguiu viver de arte entre o Brasil e a Europa.
Rio de Janeiro, RJ, 1990
Vive e trabalha na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro
Criado em berço evangélico, o artista serviu o Exército e foi patinador de street profissional durante doze anos.
Graduou-se em design na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) em 2016. No ano de 2018, recebeu o Prêmio São Sebastião de Cultura da Associação Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, na categoria Artes Plásticas. No mesmo ano participou da residência artística na Delfina Foundation e realizou a sua primeira exposição individual O batismo de Maxwell Alexandre na A Gentil Carioca, Rio de Janeiro. Em 2019, iniciou a itinerância da exposição Pardo é papel no Musée d’Art Contemporain de Lyon (MAC Lyon), França, e no Museu de Arte do Rio (MAR). Em 2020, participou da residência artística no Museu de Arte Contemporânea Africana (MACAAL) em Marrakech, que resultou em uma instalação para a exposição coletiva Have You Seen A Horizon Lately?. Em 2020, retornou com a itinerância de Pardo é papel, fazendo a terceira parada da mostra na Fundação Iberê Camargo e realizou a sua primeira exposição individual no Reino Unido na galeria David Zwirner, em Londres. Em 2021, participará de sua próxima residência no SAM Art Projects, que resultará em uma individual no Palais de Tokyo, em Paris. Maxwell foi eleito artista do ano pelo Deutsche Bank e listado como um dos 35 artistas vanguardas pelo Artsy. Sua obra integra o acervo de coleções como Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte do Rio, Musée d’Art Contemporain de Lyon e Perez Art Museum Miami.
Maxwell considera suas obras orações e seu ateliê um templo.
Dalila retocando meus dreads é uma pintura da série Pardo é papel, que tem como motivo principal a autoestima da comunidade preta. É sobre vitória, marra, ostentação e empoderamento.