Em 2 de outubro de 1992, foram mortos 111 presos da Casa de Detenção de São Paulo em consequência da ação da Polícia Militar de São Paulo, que invadiu o presídio para deter uma disputa entre os presos. A obra “111”, de Nuno Ramos, inspirada nesse episódio, é o tema deste artigo, que procura também relacioná-la com o conjunto da obra do artista.
O artigo analisa a trajetória de Glauber Rocha dos anos 50 até as vésperas das filmagens de Deus e o diabo, em 1963. Para Eduardo Escorei, mesmo antes de Glauber ser reconhecido como cineasta, já estavam delineados alguns traços de seu temperamento pessoal e artístico. Glauber só via sentido num cinema em que o cineasta se reduzisse à condição de poeta – algo ainda a ser buscado -, mas não defendia a deserção dos cineastas, que viveriam, assim, um dilema entre produção e angústia. Para o autor, foi esse dilema que levou Glauber, depois de um rápido apogeu, a uma lenta e dolorosa agonia.
Minha mulher e eu hoje levantamos cedo para comprar uma ponte. Ao que dizem será a última privatização realizada no país. A pinguela foi construída há muitos anos pelo Estado, mais precisamente pelo cunhado do prefeito.
Correspondência entre Norberto Bobbio e Perry Anderson
No número 170 da New Left Review (julho-agosto de 1988) foi publicado um artigo do historiador inglês Perry Anderson sobre o filósofo e teórico político italiano Norberto Bobbio. Nele, o marxista Anderson fazia uma avaliação compreensiva e minuciosa da trajetória e da obra do liberal Bobbio.
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Correspondência entre Norberto Bobbio e Perry Anderson
Correspondência entre Norberto Bobbio e Perry Anderson
Crise e Concentração: Quem é Quem na Indústria de São Paulo
O artigo sintetiza alguns dos principais resultados de pesquisa da área de Estado e Economia do Cebrap. Mostra como a década de 1980 representou um grande avanço da concentração e centralização de capitais na economia paulista, sob diversos recortes analíticos. Os resultados também sugerem que houve mudanças nas posições do poder econômico na indústria sediada em São Paulo, com avanço do capital estrangeiro na partilha dos lucros. Busca-se ainda, de forma exploratória, sugerir a adoção de um enfoque mesoeconômico para o estudo da crise brasileira, no qual a categoria grupo econômico é central para a análise, pois constituise no ator mais importante do processo real.
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Crise e Concentração: Quem é Quem na Indústria de São Paulo
Crise e Concentração: Quem é Quem na Indústria de São Paulo
Publicamos a seguir quatro textos que comentam o livro “Um departamento francês de ultramar”, de Paulo Eduardo Arantes (São Paulo: Paz e Terra, 1994). Os textos reproduzem as intervenções de Roberto Schwarz, José Arthur Giannotti, Oswaldo Porchat e Bento Prado Jr. no debate com o Autor, promovido pelo Suplemento de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo, realizado no Museu de Arte de São Paulo no dia 14 de março de 1994. As respostas de Paulo Arantes aos comentários dos debatedores foram suprimidas, atendendo a um pedido dele mesmo. Agradecemos a O Estado de S. Paulo pela autorização para a reprodução dos textos.
O ato de sua criação, vinte e cinco anos atrás, era para o Cebrap indicativo da opção pela democracia, via pela qual sairíamos da ditadura, então em pleno apogeu, e caminho para a erradicação da exclusão social. O apoio que recebemos, expresso nos nomes que correram o risco de afrontar um regime então todo-poderoso, e o acolhimento de nossos trabalhos, de que esta Revista em seu 66ª número é a melhor prova, assegurou-nos que a opção tinha bases reais na sociedade. Por isso, a construção desta instituição nunca foi uma pretensão vanguardista, nem a busca de ilustração de currículos pessoais, aliás mais facilmente lustráveis alhures.
O almirante Mario Cesar Flores é ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República – sucessora do extinto Serviço Nacional de Informações e da Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional – e ex-ministro da Marinha (governo Collor). Nesta entrevista ele fala sobre as atribuições e a organização da SAE, alguns programas desenvolvidos pelas Forças Armadas brasileiras e os problemas de defesa do Brasil.
Para Roberto Schwarz, a inspiração geral do livro de Paulo Arantes vem da Formação da literatura brasileira, onde Antonio Candido descreveu o desejo dos brasileiros de terem uma literatura. Paulo Arantes adaptou a fórmula e escreveu uma história dos paulistas no seu desejo de construírem uma cultura filosófica. Mas o processo estudado por Paulo Arantes é quase contemporâneo e, neste sentido, o seu trabalho se aproxima mais do de Paulo Emilio, que por sua vez historiou o desejo dos brasileiros de terem um cinema, também um processo recente.
Apoiando-se nas críticas desenvolvidas por alguns autores canadenses e em várias entrevistas com membros de organizações nacionais e internacionais dos países da América do Norte, o artigo analisa as consequências do NAFTA (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio), especialmente para o Canadá. O NAFTA tem beneficiado basicamente interesses dos EUA, e tem interferido negativamente em aspectos importantes do sistema político-social canadense, que vão desde as políticas sociais e de desenvolvimento regional até as medidas de preservação do meio ambiente e a atuação dos sindicatos. O artigo aborda ainda a ação de resistência ao NAFTA desenvolvida por redes sociais trinacionais (Canadá, México e EUA), uma experiência que pode ser útil aos latino-americanos.
Será pertinente enxergar no Nabuco de “O abolicionismo” um liberal? A questão reporta-nos à conceituação das relações centro-periferia no que concerne à migração e aplicação local de idéias oriundas do continente europeu. Privilegiando a análise de conceitos, este artigo procura singularizar a posição ideológica de Nabuco, indicando sua contribuição a uma compreensão mais sistemática dos problemas nacionais, em andamento ao fim do século XIX.
Nos debates desenvolvidos nos meios acadêmicos sobre a dinâmica e a estrutura do mercado de trabalho no Brasil têm predominado as análises preocupadas com a eficiência alocativa das instituições que regulam o mercado de trabalho. Os autores consideram esse enfoque insuficiente para dar conta dos principais problemas envolvidos considerando os desafios estruturais que o país enfrenta. Para eles, uma política específica para o mercado de trabalho requer ações sobre o ambiente econômico e social em que este se desenvolve.
A chave de Berlim, último livro de Bruno Latour, serve de ponto de partida para uma discussão dos grandes temas da nova sociologia da ciência e da técnica, da qual Latour é um dos expoentes mais importantes. Através de uma série de ensaios, Latour examina e busca romper as barreiras conceituais entre a ciência e suas aplicações, o mundo social e o mundo das técnicas, e o conhecimento de sentido comum e o conhecimento técnico-científico. O caráter essencialmente social das técnicas é examinado a partir de alguns artefatos da vida quotidiana, como as chaves e as molas de porta, enquanto que, no outro extremo, uma discussão sobre a pintura medieval e renascentista abre caminho para o contraste entre o pensamento científico, de rede, e o pensamento religioso, de procissão.
No final do segundo milênio o futuro comum do planeta está ameaçado: pobreza, divisão do mundo entre Norte e Sul, violações de direitos humanos. Será a origem do problema política, econômica ou social, ou uma combinação de fatores que devem ser tratados globalmente? Trata-se de violações de direitos humanos, ou de problemas de desenvolvimento econômico? Que soluções podem ser propostas nas esferas nacionais e internacional? Este texto responde essas questões examinando a evolução dos direitos humanos desde 1948 e discutindo as relações entre pobreza, marginalização e violência; crescimento econômico e desenvolvimento humano; distribuição da renda, democracia e violações de direitos humanos; erradicação das violações e seguridade mundial.
Fredric Jameson resenha a coletânea Cultural Studies, que reproduz os textos apresentados em uma conferência sobre o tema realizada em Urbana-Champaign no primeiro semestre de 1990. Embora os Estudos de Cultura possam ser vistos como uma planta arquitetônica para uma nova disciplina acadêmica, Fredric Jameson prefere abordá-los em termos políticos e sociais, enquanto um projeto para constituir um “bloco histórico” no sentido gramsciano – uma aliança projetada entre vários grupos sociais -, constituindo-se, assim, numa espécie de substituto do marxismo.
Para Oswaldo Porchat, Paulo Arantes mobiliza sua notável cultura filosófica para escrever um livro eminentemente antifilosófico. Paulo Arantes entende filosofia não como algo que se adote e se viva, mas como algo que se estuda como objeto, que se deve estudar e compreender de fora; assim, não há no livro debate de teses filosóficas, mas sempre a tematização externa.
Para Giannotti, Paulo Arantes procura frisar como um esquema de idéias fora do lugar passa a ter uma função pedagógica diante do velho ensaísmo brasileiro e como a disciplina na história da filosofia cria um novo tipo de intelectual. Mas Paulo tende a generalizar uma experiência que parece ser dele ou de sua geração. Giannotti expõe sua própria experiência no Departamento de Filosofia da USP para mostrar como, ao destacar alguns traços da cultura paulista para dar sentido a este ou àquele traço da experiência filosófica da USP nos anos 60, Paulo foi obrigado a reduzir o Departamento aos limites de seu método.
Bento Prado Jr. considera que o livro de Paulo Arantes é de natureza essencialmente filosófica, visando uma reflexão sobre o lugar da filosofia no mundo contemporâneo. Embora concorde globalmente com o diagnóstico de que não faz mais sentido fazer filosofia diretamente, Bento aponta a necessidade – que Paulo Arantes recusa – de tematizar, mesmo que de maneira oblíqua, o estilo da linguagem filosófica no grau zero do seu nascimento.
Este artigo completa a análise do percurso de Arnaldo Jabor, do cinema dos anos 70-80 à crônica dos anos 90. De um lado, aponta no cronista os temas e as visões do cineasta, seu diálogo com Nelson Rodrigues e Glauber Rocha, sua lida com os gêneros dramáticos na busca do tom ajustado ao teor da crise brasileira. De outro, destaca as mudanças de perspectiva no diagnóstico do país sugerido em suas alegorias. Nestas, a psicanálise orienta uma atualização do debate sobre o “caráter nacional”, dando feição nova a uma exasperação em face do país que não retira de pauta o apocalipse mesmo quando repõe uma ideologia da modernização como vitória da Razão sobre a barbárie.