Antenor Silveiras, filho e neto de escravos da região de Pelotas, no Rio Grande do Sul, relembra fatos que viveu ou lhe foram relatados por seus antepassados, fornecendo um interessante painel da vida dos escravos no Rio Grande do Sul.
Neste artigo são apresentados dados inéditos sobre a origem social dos cadetes das academias militares do Exército, Marinha e Aeronáutica na década de 80 e início dos anos 90. Os dados mostram que no Exército tem ocorrido um progressivo aumento do número de filhos de militares entre os cadetes, o que caracteriza uma situação de fechamento social da instituição inédito na história contemporânea do Brasil. Além disso, predominam os filhos de oficiais subalternos ou praças. No conjunto, esses dados colocam novas questões para a discussão da origem social dos militares.
Este texto é um comentário de Yve-Alain Bois sobre o livro Fenêtre jaune cadmium, de Hubert Damisch. Ao enfrentar a questão: “o que significa pensar para um pintor?”, Damisch – de acordo com Yve-Alain – procura identificar não só qual é o modo de pensar que está em jogo na pintura, mas, acima de tudo, o que significa, para quem escreve, o pensamento pictórico. Ou, nos termos utilizados na década de 60, Damisch procura responder à questão de se a pintura é uma prática teórica.
Respondendo a resenhas publicadas no nº 36 de Novos Estudos, Roberto Schwarz procura apontar o interesse e a oportunidade do livro de Robert Kurz sobre O colapso da modernização(São Paulo: Paz e Terra, 1992).
O artigo analisa a contribuição da obra de Viana Moog Bandeirantes e pioneiros (1955) como um momento significativo da análise comparativa entre o Brasil e os Estados Unidos. Levanta questões relativas à reinterpretação do processo de ocupação territorial representado pela fronteira na construção simbólica de identidades nacionais nos dois países.
As regiões mais desenvolvidas do mundo vêm apresentando nos últimos anos um crescimento declinante de suas populações. Os países mais pobres, por sua vez – embora com taxas de crescimento populacional também declinantes a partir dos anos 70 – têm uma participação crescente na população mundial. A autora analisa os problemas colocados por essa nova situação demográfica mundial e as opções de política demográfica presentes no debate que antecede a conferência da ONU sobre população, a se realizar no Cairo em 1994.
Livro: Madame Bovary – Costumes da província, de Gustave Flaubert. Tradução, apresentação e notas de Fúlvia M.L. Moretto. São Paulo: Nova Alexandria, 1993, 431 pp.
Juan Linz, Presidencialismo e Democracia: Uma Avaliação Crítica
O artigo discute os argumentos apresentados por Juan Linz em em seu já clássico ensaio “Democracy: presidential or parliamentary. Does it make a difference?” (1985). Embora concordando basicamente com Linz em sua conclusão de que o parlamentarismo é mais favorável à democracia do que o presidencialismo tal como é normalmente praticado, Mainwaring e Shugart chamam a atenção para a importância decisiva de diferentes desenhos constitucionais e institucionais dentro da categoria geral de presidencialismo – o que não é considerado por Linz. Para os autores, em certas condições – presidentes com reduzido poder de legislar, menor fragmentação partidária e partidos mais disciplinados – o presidencialismo pode ser mais propício à estabilidade democrática.
Artigos / Articles
Juan Linz, Presidencialismo e Democracia: Uma Avaliação Crítica
Juan Linz, Presidencialismo e Democracia: Uma Avaliação Crítica
Em Aula Magna ministrada aos alunos do Instituto Rio Branco (preparatório para a carreira diplomática), Fernando Henrique Cardoso, então ministro das Relações Exteriores do Brasil, analisa as contribuições de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior para o conhecimento da realidade brasileira.
Modernização e Trabalho no Complexo Automotivo Brasileiro
O artigo discute as transformações recentes na organização e nas relações de trabalho no Brasil, buscando avaliar o alcance real das mudanças em curso – emergência de uma nova ordem na produção e nas relações industriais ou, pelo contrário, apenas uma “japanização de ocasião”? A reflexão da autora situa-se na área de interseção entre as mudanças tecnológicas e organizacionais na indústria automobilística brasileira e a reconstrução analítica dessa modernização industrial, tal como disponível na literatura brasileira produzida pelos chamados “estudos do processo de trabalho”.
Artigos / Articles
Modernização e Trabalho no Complexo Automotivo Brasileiro
Modernização e Trabalho no Complexo Automotivo Brasileiro
O historiador Evaldo Cabral de Mello recebeu recentemente o título de “Doutor Notório Saber” da Universidade de São Paulo, pelo conjunto de seus trabalhos. Autodefinindo-se como “historiador do Nordeste açucareiro”, nesta entrevista Evaldo Cabral de Mello fala de sua obra e discute problemas teóricos e metodológicos do ofício de historiador.
Crítica: Livros Socialismo, de Émile Durkheim e Max Weber. Organização, introdução e revisão técnica de Luis Carlos Fridman. Tradução de Ângela Ramalho (Parte 1) e Antonia Bandeira (Parte 2). Rio de Janeiro: Relume- Dumará, 1993, 128 pp.
Eduardo Gonçalves Andrade, o Tostão, foi um dos maiores jogadores de futebol que o Brasil já teve, sendo comparado a Pelé. Nesta entrevista, Tostão relembra momentos importantes de sua vida como jogador, fala do futebol no Brasil de hoje e de sua vida atual como médico – ou, nas palavras dele, como “homem comum”.
No percurso dos dramas de família, tendência significativa do cinema brasileiro dos anos 70, dois filmes de Arnaldo Jabor causaram impacto pela capacidade de articular as questões centrais do Cinema Novo – nos anos 60 mais ligadas à esfera pública – com a anatomia do mundo doméstico posta em destaque a partir de 1969-70. Para tanto, Jabor se apoiou em Nelson Rodrigues, filmando Toda nudez será castigada, em 1972, e o romance O casamento, em 1975. Este artigo analisa esses filmes e destaca como o seu estilo de representação, ativando uma ironia aparentada com o espírito da Tropicália de 68, se fez leitura original, em chave tragicômica, de certas constantes do “teatro desagradável” – como o fracasso da figura paterna, a decadência.
Livro: Cabeça a cabeça – a batalha econômica entre Japão, Europa e Estados Unidos, de Lester Thurow (tradução de Alberto Lopes). Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1993, 381 pp.
A democracia na esfera política promove ou retarda o crescimento econômico? Os autores iniciam a discussão sobre essa questão com uma revisão dos argumentos pró e contra a democracia. Em seguida, resumem estudos estatísticos nos quais o regime político é considerado como um dos determinantes do crescimento, identificando alguns problemas metodológicos próprios a tais estudos. A conclusão é que as instituições políticas influenciam o crescimento econômico, mas, aparentemente, pensar em termos de regimes políticos não permite captar as diferenças relevantes.
Este texto de Franz Kafka foi escrito em dezembro de 1920 e faz parte das chamadas narrativas do espólio que o autor nunca se empenhou em divulgar. Depois de sua morte, em 1924, o testamenteiro Max Brod, contrariando a última vontade do amigo no sentido de que fossem destruídas, decidiu publicá-las, a princípio em Berlim, depois em Nova York e finalmente em Frankfurt. Hoje o conjunto desses escritos, em grande parte curtos e monolíticos, pode ser encontrado num único volume (Sämtliche Erzählungen) editado a partir de 1970 pela Suhrkamp sob os cuidados de um especialista. A presente tradução foi feita com base nessa edição, considerada criteriosa pelos estudiosos da obra. “Sobre a questão das leis” (“Zur Frage der Gesetze”) é um exemplo notável da fórmula kafkiana de mesclar ensaio e prosa narrativa. O tema básico da ilegitimidade das leis substitui aqui as imagens da opressão burocrática que aparece em composição maiores (como O processo e o castelo) e a “nobreza ” ocupa o lugar da casta de funcionários que povoam o mundo abafado do ficcionista. O estilo argumentativo sustenta a reflexão até o final, mas o narrador se manifesta desde o início através do possessivo “nosso”, atenuando o caráter abstrato do que é dito e atraindo o leitor para o lance subjetivo da narração. É deste modo que a ironia se articula literariamente, pois a generalidade do assunto fica atrelada ao ponto de vista particular e comprometido, momento em que o narrador, porta-voz de uma comunidade, se torna mais personagem do que instrumento de relato. Os problemas da tradição, da crença, da democracia, da autodeterminação e da consciência radical passam pelo crivo de uma análise aplicada e sibilina, na qual acaba se impondo a “sintaxe da frustração” típica de Kafka. A tradução tentou seguir de perto o original, retendo a frase longa e explicativa, as repetições intencionais de palavras (lei e nobreza, por exemplo), o uso recorrente do verbo ser e a voz passiva, além dos numerosos recursos de modulação que acompanham os matizes do raciocínio. Sob certos aspectos não parece fora de propósito sugerir que o quadro geral da sociedade imaginária descrita por Kafka neste texto mantém laços de semelhança, entre outras, com a nossa.
Uma Interpretação da América Latina: A Crise do Estado
Depois da II Guerra Mundial, uma primeira interpretação paradigmática da América Latina foi definida: a nacional-burguesa, da industrialização substitutiva de importações. Após a crise dos anos 60 definiu-se um novo momento paradigmático de interpretação da América Latina com a teoria da nova dependência. Depois da crise dos anos 80 e do avanço neoliberal, talvez esteja se definindo uma nova síntese, que podemos chamar de “interpretação da crise do Estado” – se quisermos enfatizar o diagnóstico – e “interpretação social-democrática européia” ou “interpretação pragmática leste-asiática” – se preferirmos destacar as estratégias de desenvolvimento implícitas.
Artigos / Articles
Uma Interpretação da América Latina: A Crise do Estado
Uma Interpretação da América Latina: A Crise do Estado