Na América Latina, a chegada ao poder de governos escolhidos em eleições livres não propiciou as reformas políticas que levariam à consolidação democrática prevista por alguns analistas da transição. O artigo examina os casos da Argentina, Brasil, México e Peru, procurando explicar o divórcio – aparentemente paradoxal – existente entre a estratégia de formação de coligações eleitorais vitoriosas e a construção de um bloco hegemônico com capacidade de governar.
O autor analisa a contribuição da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo para a mudança nos estudos sobre a sociedade brasileira. A partir do decênio de 1930 ela lhes imprimiu certa radicalidade, na medida em que tomou como objeto, não as classes dominantes, mas as classes dominadas e os grupos marginalizados, inclusive o negro. A situação deste é vista pelo autor como problema de cuja solução depende o advento de uma vida democrática real. Além disso, na medida em que é marginalizado, o negro pode adotar como defesa a volta às tradições culturais africanas, o que de um lado é positivo mas, de outro, pode fazer o jogo do dominador “branco” ao excluir o negro brasileiro da cultura de tipo ocidental que assegura a modernidade e os controles.
Fernando Collor de Mello poderia ser visto como um anti-herói, a exemplo do Macunaíma, de Mário de Andrade; ou como um desbravador, à la Barry Lindon; ou até como um Fausto brasileiro, encarnador da força devastadora da história, cujo projeto é o futuro. Para o autor, entretanto, Collor sempre foi um simulacro, e não é, apesar de seu discurso, o primeiro presidente de um Estado moderno e renovado, mas o último presidente de um Estado falido, e é por isso que será lembrado.
O artigo argumenta que a regulação estatal foi crucial para a eclosão do “milagre” econômico brasileiro e para a continuidade do crescimento nos anos 70, já que vigorava um padrão de acentuado fomento à acumulação de capital. Localiza no novo padrão de regulação estatal conformado a partir de 1979 – fomento à desvalorização do capital, para o setor privado em geral, e de condições favoráveis para o ajuste à crise, para os grandes capitais em particular- o principal determinante da crise financeira do Estado. Conclui apontando ser necessário retomar o fomento à acumulação de capital a partir do Estado; sem ela, continuará crescendo a incerteza que é inerente a capitais imersos numa crise estrutural tão profunda como a nossa.
“A educação estética do homem. Numa série de Cartas”, de Schiller, tradução de Roberto Schwarz e Márcio Suzuki. São Paulo: Iluminuras, 1989, 162 pp; e “Poesia ingênua e sentimental, de Schiller”, tradução, apresentação e notas de Márcio Suzuki. São Paulo: Iluminuras, 1991, 150 pp.
O artigo questiona a validade, hoje, da distinção bi-racial/multirracial que fundamentou a análise comparativa dos sistemas de relações raciais dos EUA e do Brasil nas últimas décadas. Para o autor, aquela distinção se baseava mais em uma leitura qualitativa das histórias dos dois países do que em dados. As novas informações e novas interpretações surgidas nas duas últimas décadas sugerem seu reexame, como parte de uma tentativa mais ampla de repensar o papel da raça nos dois países, considerando especialmente os seguintes fatores: os dados estatísticos recentes sobre desigualdade e discriminação; a evolução dos mecanismos de desigualdade racial; os fatores determinantes da criação e manutenção dos sistemas de relações raciais; e o modo como as ideologias por trás dos sistemas de classificação racial interagem com a auto-imagem da elite e a projeção dessa imagem com propósitos nacionalistas.
Em comparação ao jazz, estilo essencialmente harmônico, a bossa nova é fundamentalmente melódica. Em Tom Jobim, todos os elementos da composição são submetidos à melodia, que não pode ser modificada em suas linhas essenciais. João Gilberto aproxima o canto à indeterminação da fala, seja na marcação rítmica seja nos intervalos melódicos. Suas interpretações revelam uma beleza doméstica, íntima, mais ética do que técnica. Apontam para a utopia de uma perfeição que brote espontaneamente, sem esforço.
O Envolvimento dos Pentecostais na Eleição de Collor
No Brasil pós-ditadura as igrejas pentecostais, tradicionalmente afastadas da política, estão entrando ativamente na vida político partidária. A eleição presidencial de 1989 foi um momento muito intenso de envolvimento eleitoral dos pentecostais. Resultado de uma pesuisa de campo, este artigo mostra que, para convencer os eleitores crentes a votar em Fernando Collor, as lideranças pentecostais usaram o argumento da ameaça votar no Partido dos Trabalhadores (PT) seria o mesmo que entregar o futuro de suas igrejas a uma tenebrosa aliança católico-comunista.
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O Envolvimento dos Pentecostais na Eleição de Collor
O Envolvimento dos Pentecostais na Eleição de Collor
Em que sentido é possível falar no fim da história? Por certo essa não é uma hipótese a ser testada empiricamente. O autor examina como Francis Fukuyama tenta dar sentido a essa questão transcendental e procura mostrar como ele cai na rede da metafísica, entendida como a zona de confusão entre proposições da essência e proposições empíricas. Por fim, indaga sobre a possibilidade de retomar esse problema repensando certos temas marxistas.
O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre Paulo César Farias pode ser considerado como um dos mais importantes textos políticos da história do Brasil. Mais do que um simples relato, as 360 páginas do relatório fornecem uma interpretação da sociedade e da política brasileira contemporâneas.
Onze Teses Por Ocasião de Mais uma Descoberta de Portugal
Em onze teses o autor procura negar a noção de Portugal como um país ininteligível. Rebatendo idéias como a de que o país está “doente e precisando de cura psiquiátrica”, o autor considera que os mitos sobre Portugal são próprios de um país sem tradição filosófica e científica; e que para compreender o caráter único da sociedade portuguesa – de desenvolvimento intermédio, semiperifèrica, heterogênea, na qual o Estado desempenha papel privilegiado – é imprescindível a contribuição teórica inovadora das ciências sociais.
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Onze Teses Por Ocasião de Mais uma Descoberta de Portugal
Onze Teses Por Ocasião de Mais uma Descoberta de Portugal
O artigo analisa as questões políticas relacionadas ao impeachment do presidente Collor e suas repercussões sobre a conjuntura atual. Para o autor, a compreensão do processo que culminou com o afastamento do presidente deve ser buscada – além de na crise econômica – na lógica do funcionamento da política institucional, bastante complicada pela entrada em vigor da Constituição de 1988.
Neste final de século anunciado como o século da razão, o Brasil e países vizinhos vêem prosperar religiões e manifestações religiosas de intenso apego à magia; pentecostalismo de cura divina, umbanda, candomblé, catolicismo carismático. No mesmo movimento, correntes religiosas como as das comunidades eclesiais de base, centradas em práticas não mágicas, entraram em declínio. O autor propõe considerações sobre a adesão a essas religiões e a participação política dos seus adeptos.
O pintor Georges Seurat procurou evitar a proximidade das imagens e a precisão fotográfica características do pompiérisme. Entretanto, as imagens espectrais da pintura de Seurat têm algo do negativo fotográfico e sua obra é, talvez mais que a de qualquer outro pintor de seu tempo, marcada pela existência da fotografia.
A poesia de Orides Fontela se afasta com uma notável liberdade de “tendências históricas” da poesia. Se fosse preciso usar um rótulo para classificá-la, talvez coubesse o de “metafísica”. Mas, para o autor, o que caracteriza a poesia de Orides, além de sua pureza formal extrema, é a interrogação sobre o nosso destino e uma tentativa de figurar um nexo simbólico entre valores essenciais.
No final do século XIX, surgiu um acirrado debate em torno da filiação étnica e lingüística dos habitantes do planalto paulista às vésperas da chegada dos primeiros europeus. Os Guaianá, enfim, eram Tupi ou Tapuia? Muito mais do que uma simples questão etnográfica, o “problema Guaianá” dizia respeito à construção da história de São Paulo num momento crítico, confrontando-se a imagem idealizada do Tupi histórico com a do selvagem Kaingang contemporâneo. Ao discutir o contexto e o conteúdo do debate, o artigo reavalia uma das maiores distorções da historiografia paulista.