O artigo analisa a comédia produzida durante o romantismo brasileiro a partir da obra de Martins Pena e Joaquim Manuel de Macedo. Sustenta-se que Pena, num minucioso trabalho de incorporação de outros gêneros, inaugura a comédia de costumes no país, ao passo que Macedo é visto sobretudo a partir de sua contribuição para a renovação da linguagem teatral. A comédia é aqui entendida à luz da instabilidade de suas relações de sentido e do descompasso próprio do encontro entre formas artísticas forjadas na Europa e o contexto político brasileiro.
Nada autoriza tratar o sistema político brasileiro como singular. Coalizões obedecem e são regidas pelo princípio partidário. O presidente, que teve seu poder institucional reforçado pela Constituição de 1988, detém monopólio sobre iniciativa legislativa, o que aproxima o sistema brasileiro das democracias parlamentaristas européias. Ainda que estruturada em torno de questões empíricas, a discussão tangencia questões teóricas, como a importância das escolhas institucionais e como estas afetam as relações entre a maioria e a minoria em governos democráticos.
Este artigo sustenta que as características da formação do Estado regulador brasileiro, antes de se apresentarem relacionadas a disputas entre economistas neoclássicos e economistas keynesianos, estariam vinculadas a disputas entre interpretações do Brasil que tomam como foco de análise a dinâmica política da relação entre Estado e sociedade.
A autobiografia, gênero central na bibliografia escrita por ou sobre indígenas nos Estados Unidos, está ausente na bibliografia equivalente no Brasil. Este trabalho questiona as razões desse contraste, resumindo análises sobre a peculiaridade cultural do gênero autobiográfico – profundamente vinculado à formação do indivíduo ocidental -, sobre sua possível tradução ameríndia e sobre as formas pelas quais o sujeito histórico indígena tem sido construído no Brasil.
Crítica: Livros – “JOANA A CONTRAGOSTO”, de Marcelo Mirisola. Rio de Janeiro: Record, 2005. “O AZUL DO FILHO MORTO”, de Marcelo Mirisola. São Paulo: Editora 34, 2002.
Em resposta ao artigo “O Lobby de Israel”, sustenta-se que a proximidade entre os EUA e Israel é cultivada pelo Lobby e não por ele criada. Defende-se também que as conclusões de Mearsheimer e Walt são baseadas em pesquisa descuidada, deturpações e lógica falsa, mas que ainda assim a tese central é digna de debate.
Este texto examina o debate artístico e cultural do último quartel do século XX, quando o termo pop se viu presa de uma aguerrida batalha de reconfigurações ideológicas, retomado ora como marco de uma nova e benfazeja era da cultura, ora como desfecho da “arte histórica” que finalmente auspiciava o advento da “Arte” como puro conceito. Discute o rescaldo contemporâneo desse debate – no qual uma “questão pop” persiste em lugar de destaque – e analisa especialmente a influência que sobre ele tiveram as correntes do multiculturalismo.
Este artigo examina o processo eleitoral de 2006, que culminou na reeleição do presidente Lula. Argumenta-se que o período foi marcado pelo voto de advertência de eleitores insatisfeitos com o primeiro mandato e por erros de estratégia do PSDB, a começar pela escolha do candidato. Sustenta-se ainda que a falência ética do Partido dos Trabalhadores ensejou uma onda de preconceito inédita na história política brasileira.
Ainda que tributária do construtivismo brasileiro, a produção artística de Antonio Manuel se manteve única e, muitas vezes, radical. Este artigo examina as especificidades do trabalho do artista, principalmente a partir de suas semelhanças e diferenças com os postulados do neoconcretismo.
Reconhecido por reavivar a polêmica sobre o formalismo, o crítico e historiador da arte Yve-Alain Bois discute nesta entrevista questões relativas à arte contemporânea. O autor reflete sobre o contextualismo na crítica de arte, tece considerações sobre as disputas no meio acadêmico, problematiza o conceito de pós-moderno e relembra o convívio com a artista plástica brasileira Lygia Clark.
A expectativa otimista a respeito do potencial democratizante das novas tecnologias da comunicação expressa uma projeção especulativa que deve ser confrontada com experiências concretas. O caso do referendo sobre a comercialização de armas de fogo indica que o impacto da internet na dinâmica política apresenta dimensões mais cinzentas, como o potencial de destruição do espaço público.
Este artigo dá seqüência às respostas à conferência “O vício da virtude: autoconstrução e acumulação capitalista no Brasil”, de Chico de Oliveira, publicada no número 74 desta revista. Argumenta-se que a disponibilidade crescente de um exército de reserva de força de trabalho e a baixa substancial do salário justifica a realização dos mutirões.
Este artigo pretende fornecer uma resposta à conferência “O vício da virtude”, de Chico de Oliveira, publicada nesta revista na edição de março de 2006. Contra o argumento de que o processo de autoconstrução não deve ser estimulado, pois depende de trabalhadores desempregados e não contribui para a criação de um mercado imobiliário, sustenta-se que o trabalhador que autoconstrói é o proprietário de um imóvel disposto, se necessário, à circulação mercantil.
O cerne da política dos Estados Unidos no Oriente Médio deriva das atividades do “Lobby de Israel”, que conseguiu desviá-la para longe do interesse nacional e convencer os americanos de que os interesses dos Estados Unidos e os de Israel são idênticos. O artigo sustenta que estratégias comuns ou imperativos morais inarredáveis não são explicações suficientes para explicar o notável nível de apoio material e diplomático fornecido pelos Estados Unidos.
Crítica: Livros – “COMPLÔ CONTRA A AMÉRICA”, de Philip Roth. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. “EVERYMAN”, de Philip Roth. Boston, Houghton-Mifflin Co., 2006.
O texto compara três metrópoles (São Paulo, Paris e Tóquio) para apresentar um achado de pesquisa: o de que variando os sistemas de emprego e os regimes de proteção, variam os tipos de transições e trajetórias ocupacionais, inclusive as formas assumidas pelo desemprego.
A entrevista trata do processo de constituição da União Européia. O entrevistado passa em revista a estrutura institucional e jurídica da Europa unificada e a conjuntura política recente, considerando-se o crescimento da direita no Parlamento Europeu e o impacto da recusa da constituição européia nos referendos de 2005. Busca, ainda, construir um conceito operacional de legitimação que permita avaliar o caráter democrático dos processos de tomada de decisão política no âmbito transnacional.