No contexto de elevada incerteza decorrente da crise econômica mundial, é inevitável que surjam comparações entre o momento atual e a experiência dramática da Grande Depressão, que subverteu o mundo entre 1929 e 1933. Mas, apesar das perdas financeiras e da desaceleração da economia, a disposição para a intervenção estatal é hoje um elemento determinante que diferencia itidamente as iniciativas da política econômica. Este é um fator decisivo que projeta um futuro menos sombrio para a evolução da crise atual. Palavras-chave: crise econômica; crise de 1929; intervenção do Estado; capitalismo.
No contexto de elevada incerteza decorrente da crise econômica mundial, é inevitável que surjam comparações entre o momento atual e a experiência dramática da Grande Depressão, que subverteu o mundo entre 1929 e 1933. Mas, apesar das perdas financeiras e da desaceleração da economia, a disposição para a intervenção estatal é hoje um elemento determinante que diferencia itidamente as iniciativas da política econômica. Este é um fator decisivo que projeta um futuro menos sombrio para a evolução da crise atual.
Palavras-chave: crise econômica; crise de 1929; intervenção do Estado; capitalismo.
A crise financeira iniciada com a elevação da inadimplência e a desvalorização dos imóveis e dos ativos financeiros associados às hipotecas americanas de alto risco (subprime) recolocou em debate a arquitetura do sistema financeiro americano e internacional, seus potenciais riscos sistêmicos e seus mecanismos de supervisão e regulação. Uma grande variedade de instituições financeiras frouxamente reguladas e displicentemente supervisionadas passou a constituir a contraparte da transferência de riscos de crédito do sistema bancário e a carregar riscos crescentes. O artigo procura discutir a interação dessas instituições financeiras, incluindo algumas características do principal palco dessa interação – os mercados de balcão – e a utilização de determinadas inovações financeiras que amplificaram a crise. Dada a complexidade e opacidade dessas instituições e mercados, busca ainda explicitar a necessidade de aperfeiçoamentos na sua regulação e supervisão. PALAVRAS-CHAVE: crise econômica; capitalismo financeiro; crédito; sistema bancário.
Estamos diante de um paradoxo: vivemos num mundo globalizado, em que os acontecimentos podem ser apresentados em tempo real, mas não logram se armar numa imagem de mundo que nos conduza a ele como nossa morada. Neste artigo, pergunta-se se haveria algum rebatimento entre o funcionamento atual do sistema capitalista e essa experiência de falta do mundo que nos persegue no cotidiano. Palavras-chave: capitalismo; filosofia; lógica; globalização.
Estamos diante de um paradoxo: vivemos num mundo globalizado, em que os acontecimentos podem ser apresentados em tempo real, mas não logram se armar numa imagem de mundo que nos conduza a ele como nossa morada. Neste artigo, pergunta-se se haveria algum rebatimento entre o
funcionamento atual do sistema capitalista e essa experiência de falta do mundo que nos persegue no cotidiano.
Este artigo trata da relação entre povos indígenas e as cidades através da análise do caso marubo, povo do Vale do Javari (AM) falante de língua da família Pano. O artigo tem por objetivo investigar os pressupostos do xamanismo e da mitologia mobilizados na compreensão das cidades, dos deslocamentos e da alteridade. Lançando mão das contribuições recentes da etnologia americanista, pretende-se oferecer parâmetros para a análise de problemas conceituais envolvidos no entrecruzamento dos pressupostos indígenas e não-indígenas sobre territórios, mudança e diferença. Palavras-chave: cidades; povos indígenas; Amazônia; etnologia; xamanismo.
Este artigo trata da relação entre povos indígenas e as cidades através da análise do caso marubo, povo do Vale do Javari (AM) falante de língua da família Pano. O artigo tem por objetivo investigar os pressupostos do xamanismo e da mitologia mobilizados na compreensão das cidades, dos deslocamentos e da alteridade. Lançando mão das contribuições recentes da etnologia americanista, pretende-se oferecer parâmetros para a análise de problemas conceituais envolvidos no entrecruzamento dos pressupostos indígenas
e não-indígenas sobre territórios, mudança e diferença.
O processo constituinte foi marcado por novidades como uma intensa e influente participação da sociedade civil e pela ausência de um bloco hegemônico. Daí o caráter abrangente e detalhista do texto constitucional. Mas foi esse aspecto “contraditório” do texto o que permitiu que fosse reivindicado pelos mais diferentes grupos e movimentos. E foi isso que construiu sua legitimidade e sua vitalidade. Palavras-chave: Constituição Federal; direito; democracia; disputa política.
O processo constituinte foi marcado por novidades como uma intensa e influente participação da sociedade civil e pela ausência de um bloco hegemônico. Daí o caráter abrangente e detalhista do texto constitucional. Mas foi esse aspecto “contraditório” do texto o que permitiu que fosse reivindicado pelos mais diferentes grupos e movimentos. E foi isso que construiu sua legitimidade e sua vitalidade.
O jazz e o neoplasticismo surgem como expressões de uma nova vida. Exprimem ao mesmo tempo a alegria e a seriedade que estão ausentes em nossas formas culturais exauridas. Surgem com movimentos simultâneos em várias esferas da realidade que tentam se opor à forma individual e à emoção subjetiva: não aparecem mais como expressões do “belo”, mas como “vida” que se manifesta através do puro ritmo. Palavras-chave: jazz; neoplasticismo; Mondrian; artes plásticas.
O jazz e o neoplasticismo surgem como expressões de uma nova vida. Exprimem ao mesmo tempo a alegria e a seriedade que estão ausentes em nossas formas culturais exauridas.
Surgem com movimentos simultâneos em várias esferas da realidade que tentam se opor à forma individual e à emoção subjetiva: não aparecem mais como expressões do “belo”, mas como “vida” que se manifesta através do puro ritmo.
Obra inclassificável, “A África fantasma” toma forma “[…] como uma colagem de fragmentos que se sucedem ao sabor da cronologia, fio a costurar observações etnográficas, idéias e fantasias”. Não encontra, portanto, um lugar para residir no cânone antropológico modernista, de cuja história, contudo, faz parte, uma vez que esta, ao incluir certos títulos de forma pertinente, acaba por excluir outros de modo revelador. Todavia, o mais importante é que “A África fantasma” enfrenta, a seu modo muito peculiar, a principal questão da antropologia modernista: a busca intransigente pelo real.
Obra inclassificável, “A África fantasma” toma forma “[…] como uma colagem de fragmentos que se sucedem ao sabor da cronologia, fio a costurar observações etnográficas, idéias e fantasias”.
Não encontra, portanto, um lugar para residir no cânone antropológico modernista, de cuja história, contudo, faz parte, uma vez que esta, ao incluir certos títulos de forma pertinente, acaba por excluir outros de modo revelador. Todavia, o mais importante é que “A África fantasma” enfrenta, a seu modo muito peculiar, a principal questão da antropologia modernista: a busca intransigente pelo real.
“Pião” e “Ponto final”, este praticamente subseqüente ao primeiro texto, são como a portada de “Ver navios”, sobre a qual formam uma alegoria dupla: vivacidade e parada, tendência centrífuga e convergência ensimesmada. Feitas da mesma matéria e designativas de estados que se alternam, essas alegorias se entrelaçam como peças de uma charneira.
“Pião” e “Ponto final”, este praticamente subseqüente ao primeiro texto, são como a portada de “Ver navios”, sobre a qual formam uma alegoria dupla: vivacidade e parada, tendência centrífuga e convergência ensimesmada. Feitas da mesma matéria e designativas de estados que se alternam, essas alegorias se entrelaçam como peças de uma charneira.
No discurso que é hoje hegemônico, a preocupação com a espacialidade das e nas obras de arte foi retirada da pauta artística nos espaços institucionais e sociais existentes. Mas a ampliação das concepções artísticas, das estratégias e modos processuais trouxe à lembrança essa condição de existência das obras de arte modernas, cujo alcance foi longamente subestimado. Este texto faz um panorama acerca da questão da espacialidade nas artes plásticas do século XX e procura situar o debate com relação à produção contemporânea. Tradução do alemão: Tercio Redondo
No discurso que é hoje hegemônico, a preocupação com a espacialidade das e nas obras de arte foi retirada da pauta artística nos espaços institucionais e sociais existentes. Mas a ampliação das concepções artísticas, das estratégias e modos processuais trouxe à lembrança essa condição de existência das obras de arte modernas, cujo alcance foi longamente subestimado. Este texto faz um panorama acerca da questão da espacialidade nas artes plásticas do século XX e procura situar o debate com relação à produção contemporânea.
Tradução do alemão: Tercio Redondo
Os fragmentos que inspiraram a leitura benjaminiana da metrópole parisiense ainda nos serve de guia e contraponto para olhar as megacidades e seus fluxos. Nem o caminhar anônimo pela multidão nas passagens, nem o deleite do olhar preguiçoso do flâneur nas vitrines de luxo; as passagens do transeunte das megacidades do século XXI são as ruas, ruelas e avenidas nas quais se circula a bordo dos meios de transporte; elas estão marcadas pela cadência e pelo que se pode ver através do pequeno quadro que emoldura a janela do ônibus, do metrô e do automóvel. A substância material desse espaço arquitetônico se transmuta em locomoção. Esse é pelo menos o ponto de vista que a câmera de Henri Gervaiseau lança sobre São Paulo em seu documentário “Em trânsito”, de 2005.
Os fragmentos que inspiraram a leitura benjaminiana da metrópole parisiense ainda nos serve de guia e contraponto para olhar as megacidades e seus fluxos.
Nem o caminhar anônimo pela multidão nas passagens, nem o deleite do olhar preguiçoso do flâneur nas vitrines de luxo; as passagens do transeunte das megacidades do século XXI são as ruas, ruelas e avenidas nas quais se circula a bordo dos meios de transporte; elas estão marcadas pela cadência e pelo que se pode ver através do pequeno quadro que emoldura a janela do ônibus, do metrô e do automóvel.
A substância material desse espaço arquitetônico se transmuta em locomoção.
Esse é pelo menos o ponto de vista que a câmera de Henri Gervaiseau
lança sobre São Paulo em seu documentário “Em trânsito”, de 2005.
No panorama recente da poesia brasileira surpreendeu o aparecimento, em 2001, do poema “Sítio”, de Claudia Roquette-Pinto, poeta até então tida como intimista, metaforizante, trancada no seu mundo privado e burguês. O foco desta abordagem é discutir como foi possível à auto a formular nesse poema um estudo sobre o medo e a violência, sem abrir mão da sua imagética introspectiva e da sua experiência poética anterior, centrada numa escrita referencialmente rarefeita. A análise em detalhe do poema procura registrar a conversão da opacidade, do lacunar e da indeterminação em elementos de caracterização da violência urbana e da miséria emocional dos protegidos. Aí se entrelaçam portanto a atualidade do processo histórico-social brasileiro, a vulnerabilidade da poesia e as carências do sujeito poético. Palavras-chave: poesia brasileira contemporânea; violência urbana; representação; Claudia Roquette-Pinto.
No panorama recente da poesia brasileira surpreendeu o aparecimento, em 2001, do poema “Sítio”, de Claudia Roquette-Pinto, poeta até então tida como intimista, metaforizante, trancada no seu mundo privado e burguês. O foco desta abordagem é discutir como foi possível à auto a formular nesse poema um estudo sobre o medo e a violência, sem abrir mão da sua imagética introspectiva e da sua experiência poética anterior, centrada numa escrita referencialmente rarefeita. A análise em detalhe do poema procura registrar a conversão da opacidade, do lacunar e da indeterminação em elementos de caracterização da violência urbana e da miséria emocional dos protegidos. Aí se entrelaçam portanto a atualidade do processo histórico-social brasileiro, a vulnerabilidade da poesia e as carências do sujeito poético.
Este artigo discute a articulação entre pobreza urbana e desigualdade social com base em estudos etnográficos realizados na cidade de São Paulo. Partimos da constatação de que estão em curso melhorias materiais entre a população considerada pobre, mas isso não afeta a reprodução das distâncias sociais. Por meio da comparação de três pesquisas etnográficas, propomos sistematizar e discutir alguns mecanismos sociais comuns que geram essa oscilação entre atenuação da pobreza e reprodução da desigualdade. Palavras-chave: pobreza urbana; desigualdade social; violência simbólica; vínculos sociais.
Este artigo discute a articulação entre pobreza urbana e desigualdade social com base em estudos etnográficos realizados na cidade de São Paulo. Partimos da constatação de que estão em curso melhorias materiais entre a população considerada pobre, mas isso não afeta a reprodução das distâncias sociais. Por meio da comparação de três pesquisas etnográficas, propomos sistematizar e discutir alguns mecanismos sociais comuns que geram essa oscilação entre atenuação da pobreza e reprodução da desigualdade.
Tradução de Hélio Mello Filho
O capitalismo dirigido pelas finanças sempre teve uma propensão a crises financeiras em momentos fundamentais de sua expansão territorial ao trazer economias até então dirigidas pelo Estado para a órbita da regulamentação do mercado. A crise atual, todavia, é diferente. Não apenas emanou do centro, em vez surgir de algum ponto da periferia, como também revelou falhas estruturais profundas na arquitetura institucional de contratos, fundos e mercados que compunham o sistema financeiro novo e desregulamentado. Estamos diante de uma crise sistêmica, que é sempre um evento de proporções épicas e efeitos duradouros. O objetivo deste artigo é lançar uma luz sobre este momento significativo.
Em “Joaquim Nabuco: os salões e as ruas” da série de perfis brasileiros editada pela Companhia das Letras, Angela Alonso, socióloga da USP, prova que a biografia de Nabuco ainda serve para contar uma história fascinante, escrita numa prosa acessível, com um vivo retrato das transformações sociopolíticas havidas entre 1860 e 1910 servindo de pano de fundo.
Em “Joaquim Nabuco: os salões e as ruas” da série de perfis brasileiros editada pela Companhia das Letras, Angela Alonso, socióloga da USP, prova que a biografia de Nabuco ainda serve para contar uma história fascinante, escrita numa prosa acessível, com um vivo retrato das transformações sociopolíticas havidas entre 1860 e 1910 servindo de pano de fundo.
Rafael Campos Rocha