Aonde reside a novidade da Nova República? Não convém menosprezar a importância do movimento político que alça Tancredo Neves à Presidência. Basta observar seu resultado mais imediato, pois está entregando o poder aos melhores representantes das elites burguesas do País. Tudo indica que, ao menos por algum tempo, estão subjugados os leões-de-chácara do consenso nacional. Por certo os futuros governantes não são os políticos de nossos sonhos, nem estão eles ligados, de forma definida, a interesses populares. Mas soldam uma inovadora aliança de velhos e experimentados políticos do passado à nova fornada pós-64. Ao todo conquistaram a possibilidade de abrir uma nova linha na história do capitalismo brasileiro.
Resumo
Assiste-se, pois, a uma revitalização do discurso e da vida política. Como nada é ilegítimo no absoluto, até mesmo o esdrúxulo Colégio Eleitoral se legitimou, na medida em que se constituiu na arena onde se afunilou e desaguou a extraordinária mobilização pelas eleições diretas. Valeu por seu ato suicida. E, nessas condições, teimar em fazer comício em porta de fábrica é sintoma de imaturidade política, pois esta não se encurrala no dilema entre a mobilização e a desmobilização, mas se tece na capacidade de grupos de elites, incluindo aquelas populares e operárias, de se fazerem representante de forças políticas; quer dizer, forças que vão dos movimentos sociais ao Estado e vice-versa. Lutar apenas no plano do social se torna inoperante.
Estima-se que nos últimos dez ou quinze anos cerca de um milhão de moradores dos campos saíram do meio rural em busca de emprego e renda nas cidades. Isso, em média, por ano. Em geral seu destino foram as cidades médias e, de preferência, as grandes cidades. Seria chover no molhado dizer que esse descomunal movimento de população dilatou o exército de reserva de mão-de-obra aquartelado nesses centros e elevou a pressão sobre os aparelhos urbanos de saúde e higiene públicas, educação e outros mais.
Resumo
Medra e toma corpo nesse ambiente a surrada questão agrária, com roupagens novas embora um tanto confusas. Sinais dos tempos. Nos campos, onde desde há muito proliferam os conflitos sociais de cunho fundiário e trabalhista, erguem-se agora novas bandeiras reivindicativas que abarcam amplo espectro. Desde políticas creditícias, preços mínimos, pesquisa e extensão rurais, armazenagem e escoamento, organizações cooperativas, previdência
social etc.
O desemprego acompanha o capitalismo como uma sombra, em todo seu trajeto histórico. E com ele, o combate ao desemprego. Este combate assume formas diferentes, conforme o diagnóstico das causas do desemprego.Um diagnóstico antigo e até hoje frequente é de que o desemprego é causado pela deficiência de oferta de força de trabalho, ou seja, que os sem-trabalho estão nesta condição simplesmente porque não desejam trabalhar. Sobrevivem, de acordo com esta teoria, porque se dedicam ao crime ou, no mínimo, a atividades ilícitas como a prostituição, mendicância etc.
Resumo
Quanto mais o desemprego se expandia, tanto mais se assustavam os poderes constituídos e tanto mais se agravavam as penalidades impostas aos pilhados no flagrante delito de não ter patrão. Hoje em dia, a legislação não é mais tão sanguinária, mas o combate ao desemprego mediante a repressão à vadiagem continua sendo praticado. Basta recordar que no Brasil pessoas — conforme sua cor, sua indumentária e o local em que são encontradas — são detidas como “vagabundos”pela polícia, desde que não possam comprovar mediante carteira de trabalho “assinada” que possuem emprego regular.
A crise econômica é um fenômeno histórico inerente à sociedade industrial, pelo qual esta se transforma qualitativamente, permitindo-lhe, se bem sucedida, ingressar em novas formas de organização. A história, portanto, se faz longe do equilíbrio que os economistas costumam apontar como estado ideal. Evolui, através das crises, por estados sucessivos considerados irreversíveis, o que implica que o estado presente do sistema é uma situação original que deve ser descrita. A crise energética ilustra bem esse ponto de unicidade e irreversibilidade da história, pois ela representa um fenômeno qualitativamente novo para a economia mundial, demarcando nitidamente a crise econômica atual das anteriores.
Resumo
As crises anteriores do capitalismo estão relacionadas a causas endógenas da esfera sócio-produtiva, que demonstram a incapacidade da economia de mercado de atender a certos desajustes internos, como a realização do capital investido ou o aumento desmedido do sistema de crédito em relação à base monetária em ouro. Essas crises, como demonstra o próprio Keynes, estavam relacionadas à falta de intervenção do Estado, seja como promotor da demanda seja como regulador da criação de moeda.
Desde os tempos de aluno da FAU-USP, quando junto com Flávio Império e Sérgio Ferro começava a ensaiar os primeiros projetos, em 1960-61, Rodrigo preocupou-se muito mais com a máquina de fazer casas do que com a máquina de morar, concepção de Le Corbusier tão em voga na época. A preocupação com a máquina de fazer casas ou, em outras palavras, com as casas feitas à máquina, decorria das suas atitudes sociais e políticas, da dimensão do seu amor à humanidade, próxima ou distante. Para Rodrigo Lefèvre, a principal função da arquitetura era a busca incessante de formas de organização e de produção do espaço edificado e das respectivas técnicas de edificação, que permitissem uma significativa redução dos custos do habitar.
Resumo
Reduzir os custos para democratizar o acesso à habitação e a equipamentos dignos do homem contemporâneo — a busca da dignidade muito na frente daquela de valores estéticos efêmeros — foi o traço marcante e sempre presente nas obras de Rodrigo. Não que lhe faltasse sensibilidade para o belo. Mas a beleza em arquitetura, para ele, como bom discípulo de Artigas que foi, era atingida muito mais pela simplicidade das formas e dos volumes e, principalmente, pelo empenho em não escamotear o processo construtivo.
Numa mesa-redonda sobre Literatura e Depoimento, da qual participei, o público, principalmente os jovens, nos propôs uma questão que se poderia definir nos seguintes termos: como restabelecer uma continuidade entre as experiências dos últimos dez anos e o presente? Esta pergunta, que não é simples, encerra ao mesmo tempo várias interrogações e algumas constatações.
Resumo
Comecemos com as constatações. Parece ser um sentimento difundido que a fratura sofrida pela sociedade argentina perpassa também a dimensão subjetiva, afetando a trama das relações entre os homens e dos homens com seu passado mais imediato. A lembrança se apresenta, assim, não apenas como um direito, que foi abolido pela ditadura militar, mas como uma condição para entender e agir no presente.
A estridência, os artifícios numerosos e a vontade de chamar atenção dominam o começo das Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). O tom é de abuso deliberado: o título do livro é um contra-senso, pois não é possível escrever depois de morto; a dedicatória saudosa ao verme que primeiro roeu as frias carnes de meu cadáver, arranjada em forma de epitáfio, é outro desrespeito; mesma coisa para a intimidade forçada com que se prometem “piparotes” ao leitor, caso a obra não lhe agrade; por fim, a idéia que vem a Brás Cubas de comparar a sua literatura à de Moisés, no Pentateuco, para gabar a originalidade da primeira, dispensa comentários.
Resumo
persistência no abuso, sem a qual as Memórias ficariam privadas de seu ritmo próprio, do ponto de vista técnico realizase através de intromissões do narrador, que a todo momento invade a cena e “perturba” o curso de seu romance. Estas intervenções, que são o recurso machadiano mais saliente e famoso, são elas também expressão de arbitrariedade.
Elogio da mestiçagem? As aberrações racistas de um passado recente e os novos desafios que a emancipação política das minorias e a inserção dos trabalhadores imigrantes representam para certos países fizeram com que os fenômenos de mestiçagem despertassem um crescente interesse na América e na Europa. De fato, no pós-guerra, a mestiçagem passou a ser vista como um movimento contínuo de intercâmbios e alianças intercomunitárias, levando naturalmente à superação das clivagens raciais e à eliminação das disparidades sociais que nelas se enxertaram ao longo da história.
Resumo
Diante dos enigmas nacionais criados pela formação dos Estados contemporâneos, a mestiçagem desataria o nó górdio que liga o conceito moderno de nacionalidade ao conceito de cidadania, permitindo assim apressar o surgimento do homem universal. Investidos destas aspirações generosas e humanitárias, os intercâmbios inter-raciais representam, desde então, por uma curiosa repetição da história, um papel semelhante àquele que, antes da primeira guerra, desempenhava o internacionalismo de Jaurès, que sonha o estatuto incerto de raça e cultura va com a “pátria universal das nações independentes e amigas”.
Em 1984, pela primeira vez em três anos, não houve dificuldades para fechar o balanço de pagamentos. Contrariando as expectativas da grande maioria dos analistas, os resultados superaram por ampla margem as metas fixadas no início do ano, e o país cumpriu a apertada programação do setor externo, sem precisar captar recursos adicionais para complementar os já contratados na segunda fase de negociação com os credores privados.
Resumo
A redução das importações deveu-se à estabilidade das compras externas, afora petróleo, e à expansão da produção deste combustível que permitiu uma diminuição de 15% no volume destas importações. Já em 1985, como a liquidez do sistema financeiro internacional deve permanecer apertada e o serviço da dívida continuará elevado, a capacidade do país de manter e eventualmente melhorar a estabilidade das contas externas depende basicamente da repetição dos superávits comerciais, por um lado, e, por outro, dos resultados da terceira fase de negociação com os credores internacionais.
Resumo
Tomou o declínio do seu ciclo vital por um certo enlanguescimento da História.