Neste artigo abordamos alguns aspectos da natureza da sociedade escravista – na África e no Brasil – especialmente os significados da liberdade, cor, protesto entre os séculos XVII a XIX. Partimos de um diálogo crítico sobre as perspectivas de miscigenação, políticas de domínio e dinâmicas sociais nas sociedades escravistas e os desdobramentos para o seu funcionamento e mudança.
A produção da opacidade - Estatísticas criminais e segurança pública no Brasil
Renato Sérgio de Lima
No Brasil, a análise das estatísticas mostra que dados sobre o crime e a criminalidade existem e fazem parte da história do sistema de justiça criminal do país; no entanto, eles não se transformam, mesmo após a redemocratização, em informações e conhecimento. O aumento da quantidade de dados produzidos, decorrente da modernização tecnológica do Estado, provoca, por sua vez, a opacidade do excesso de exposição e permite que discursos de transparência sejam assumidos sem, todavia, instaurar mudanças nas regras e práticas de governo. Em suma, a redefinição dos papéis de tais estatísticas e a superação desse quadro têm menos relação com aspectos técnicos, que são controláveis e dependem da tomada de decisões, e, mais, com aspectos políticos que dêem conta de atribuir responsabilidades e resolver conflitos.
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A produção da opacidade - Estatísticas criminais e segurança pública no Brasil
A produção da opacidade - Estatísticas criminais e segurança pública no Brasil
A técnica como capital e o capital humano genético
Osvaldo López-Ruiz
A partir da proposta de Theodore W. Schultz, fundador da teoria do capital humano, de considerar a mudança tecnológica como uma forma de capital para os fins da análise econômica, propomos estudar as implicações lógicas de uma formulação que, na atualidade, estaria abrindo espaço para pensar o humano como uma forma de capital – e até mesmo antes de o ser humano nascer. Para isso, recorremos às reflexões de Michel Foucault feitas no seu curso Nascimento da biopolítica – recentemente publicado -, no qual chamará a atenção para o que vai designar como “o problema político da genética”. Refletimos, assim, sobre as implicações sociais e econômicas da informação genética quando o objeto de estudo da economia é estendido e passa a abarcar não só certos atributos humanos, considerados agora uma forma de capital, mas também o próprio progresso técnico.
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A técnica como capital e o capital humano genético
A técnica como capital e o capital humano genético
Os avanços no campo da segurança pública no Brasil seguem em tensão com uma realidade que desafia,de maneira cotidiana,o aparato democrático disponível. A reflexão permanente sobre esses temas é uma etapa fundamental para que eles possam ser concretizados.
Entre os especialistas em segurança pública, tornou-se lugarcomum a idéia de que a guerra do tráfico no Rio de Janeiro é totalmente única no Brasil. Porém, essa afirmação é imprecisa. Organizações de narcotráfico em muitos aspectos comparáveis às facções cariocas existem em outros contextos urbanos. O que as diferencia é menos a capacidade de estabelecer o monopólio local sobre o comércio de drogas do que a resiliência da sua estrutura interna e, portanto, a duração da sua existência e dominação. Durante uma pesquisa de campo em nove comunidades de periferia de três cidades, observei não apenas uma alta variação nos graus de concentração entre os mercados locais de drogas, mas também de variação com o tempo dentro da mesma comunidade. Desta perspectiva, a estabilidade do mercado de drogas altamente concentrado do Rio de Janeiro pode ser visto como um equilíbrio único, no qual as forças de fragmentação operantes em outras cidades são neutralizadas por características específicas das facções cariocas. O meu argumento é o de que tais características decorrem do domínio exercido pelas facções sobre o sistema penitenciário desde antes do início da sua expansão para o comércio de drogas.
Desenvolve-se aqui uma reflexão sobre o poema em prosa no contexto do mundo contemporâneo. Examinando textos de quatro escritores representativos do gênero – o inglês John Berger, o francês Yves Bonnefoy, o norte-americano Tom Whalen e o alemão Heiner Müller -, o autor busca delinear os principais traços constitutivos dessa forma de expressão literária, que em sua diversidade de realizações se pautaria, de um modo geral, pela manifestação poética de uma extrema inquietude em relação à realidade vivida e por uma aguda autoconsciência da linguagem.
Escravidão e sociabilidade capitalista - Um ensaio sobre inércia social
Adalberto Cardoso
Apoiando-se em estudos historiográficos que a partir dos anos 1980 empreenderam uma ampla revisão da história social do trabalho no Brasil, o artigo apresenta algumas hipóteses sociológicas sobre a permanência de traços estruturais do passado escravista no processo de construção da sociabilidade capitalista no país. Esse legado compreenderia uma percepção rebaixada do trabalho manual, uma imagem depreciativa do negro e mesmo do elemento nacional como trabalhadores, uma indiferença das elites quanto às maiorias pobres e uma hierarquia social extremamente rígida. Segundo o autor, esse quadro de inércia estrutural ditou os parâmetros gerais da reprodução do trabalho livre nos primórdios da ordem capitalista no Brasil.
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Escravidão e sociabilidade capitalista - Um ensaio sobre inércia social
Escravidão e sociabilidade capitalista - Um ensaio sobre inércia social
A arquitetura contemporânea experimenta uma arriscada fusão com a publicidade e a indústria do entretenimento. A forma arquitetônica está sendo explorada em seus limites materiais, até a inversão de seus fundamentos construtivos e produtivos, num jogo de volumes e efeitos, aparentemente sem regras e limitações, em busca do grau máximo da renda. Este artigo interpreta essa nova condição da arquitetura – da formação do fetiche e do capital fictício aos canteiros de obra -, tomando como fio condutor a produção do arquiteto Frank Gehry. A análise das formas, técnicas e materiais nos permite investigar por que a arquitetura de ponta é hoje uma das vanguardas da economia rentista.
O lugar da prisão na nova administração da pobreza
Loïc Wacquant
A sociedade norte-americana é cinco vezes mais punitiva hoje do que há 25 anos. O acionamento da luta contra o crime serviu tão-somente como pretexto e trampolim para uma reformulação do perímetro e das funções do Estado, que resultou no enxugamento do seu componente de welfare. O complexo penitenciário ganhou um lugar central como instrumento para a administração da pobreza, nas encruzilhadas do mercado de trabalho desqualificado, no colapso do gueto urbano e nos serviços de bem-estar social “reformados” de modo a reforçar a disciplina do trabalho assalariado dessocializado.
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O lugar da prisão na nova administração da pobreza
O lugar da prisão na nova administração da pobreza
O mercado de trabalho antes de 1930 - Emprego e "desemprego" na cidade de São Paulo
Alexandre de Freitas Barbosa
O texto procura caracterizar o mercado de trabalho paulistano durante o período pré-1930, destacando os grupos sociais que contribuíram para a sua formação, bem como as suas características peculiares em termos de inserção ocupacional. A situação observada é de extrema instabilidade e flexibilidade no uso da mão-de-obra, associada a um excedente estrutural de força de trabalho congênito.
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O mercado de trabalho antes de 1930 - Emprego e "desemprego" na cidade de São Paulo
O mercado de trabalho antes de 1930 - Emprego e "desemprego" na cidade de São Paulo
Nesta entrevista, o ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo Nagashi Furukawa faz um diagnóstico de sua gestão e dos impasses relacionados às políticas para a segurança pública no Brasil. A crise gerada pelos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006, suas origens e conseqüências estão no cerne da conversa que se lê a seguir.
Com base no conto “Na galeria”, incluído no volume Um médico rural, procura-se mostrar como o realismo se materializa na obra de Franz Kafka. Argumenta-se que a deformação da realidade que pode ser sugerida pela obra do autor obedece a uma percepção aguda do mundo.Kafka mostra, no próprio corpo de obras-primas como esta, as coisas como elas são e as coisas como elas são percebidas pelo olhar alienado.
Poder, redes e ideologia no campo do desenvolvimento
Gustavo Lins Ribeiro
Neste artigo, desenvolvimento é visto como um campo de poder formado por muitas redes e instituições. A noção de “consorciação” é apresentada para explicar as articulações entre os diferentes atores do campo do desenvolvimento. Além disso, desenvolvimento é tratado como uma ideologia e utopia, como um discurso atravessado por categorias culturais ocidentais e vinculado à expansão econômica capitalista. A discussão sobre os “dramas desenvolvimentistas” permite identificar dois tipos de sujeitos gerados por encontros desiguais entre atores locais e outsiders.
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Poder, redes e ideologia no campo do desenvolvimento
Poder, redes e ideologia no campo do desenvolvimento
SOFRIMENTO DE INDETERMINAÇÃO – UMA REATUALIZAÇÃO DA FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL, de Axel Honneth. Trad. Denílson Luiz Werle e Rúrion Soares. São Paulo: Esfera Pública, 2007.
Tropical, de Anita Malfatti - Reorientando uma velha questão
Tadeu Chiarelli
A partir da análise de Tropical, tela pintada por Anita Malfatti em 1917, este artigo propõe que a artista procedia a uma mudança em sua linguagem pictórica, afastando-se das concepções de vanguarda que adotara até então para, aderindo ao clima de retorno à ordem internacional, aproximar-se das discussões sobre o nacionalismo na arte, presentes na cena paulistana. Assim, a imagem de mulher insegura que mudou sua perspectiva por causa da crítica de Monteiro Lobato adquire outra conotação. Os modernistas teriam preferido essa interpretação a efetuar uma análise da obra de Anita Malfatti, por meio da qual se poderia desvelar uma deserção do programa vanguardista feita de forma consciente pela artista.
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Tropical, de Anita Malfatti - Reorientando uma velha questão
Tropical, de Anita Malfatti - Reorientando uma velha questão