A intenção inicial deste artigo era efetuar o balanço crítico de alguns volumes de poesia publicados durante o ano de 1983. O movimento editorial apresentava então sinais de arejamento, incorporando poetas que escreviam em publicações nanicas e à margem há pelo menos uma década. Como o acontecimento foi mais editorial do que literário — a recepção crítica deixando a desejar —, pensei que valesse a pena inverter os termos e escrever uma resenha à maneira dos bons tempos do rodapé, um artigo de crítica judicativa e de oficina, discernindo neste ou naquele verso qualidades, deficiências, força e originalidade, caracterizando tendências e influências, para incentivar a disposição porventura existente de encontrar novas soluções.
Resumo
Escrito em fevereiro de 84 a pedido de conhecido suplemento de certa folha paulistana — que programou e, por razões insondáveis, desprogramou um número dedicado à nova poesia brasileira —, o texto não chegou a vir a lume nem a conhecer o leitor. Hoje, muitas ideias aqui aventadas encontram-se desenvolvidas no ensaio que escrevi com Iumna Maria Simon, “Poesia ruim, sociedade pior” panorama mais amplo da dinâmica da poesia brasileira contemporânea.
As eleições que se cumpriram em 15 de novembro representam um importante evento na história política do país. Tormentas” do autoritarismo, e revelam, pela exígua abstenção quase sem paralelo no mundo contemporâneo, que votou-se menos pela obrigatoriedade e mais pelo que significam simbolicamente: o desejo e a convicção de que o caminho da Nação é o democrático, e que este é a forma privilegiada para as mudanças, reformas e transformações.
Resumo
A questão crucial da futura Constituinte é o embate entre as forças políticas que tentam a regulação política da economia e as forças que se opõem à mesma, beneficiárias que foram da quase total desregulação promovida pelo regime autoritário. Essa questão já é a central no capitalismo desenvolvido desde as primeiras décadas do século, e não são de outro teor os avanços registrados no Estado do Bem-Estar e o privilegiamento pela social-democracia do controle político do mercado, pondo o acento na distribuição social.
No texto do professor Wolfgang Léo Maar vejo certos pontos críticos que merecem reparos. Por certo passei duma análise muito abstrata do modo de produção do trabalho intelectual no capitalismo de hoje, para uma análise de certos tipos que povoam nossas universidades. Não me cabe fazer sua história num panfleto que visa, sobretudo, agitar idéias. Interesso-me antes de mais nada pela falta de medida que atinge os serviços em geral, pois quero entender melhor essas classes médias modernas onde o trabalho mistura o fazer com o fazer de conta, no caso da universidade, as figuras do sábio e do sabido.
Resumo
Se é para voltar à história de nossas instituições universitárias, não é para, como me parece fazer o professor Maar, do avanço do capital extrair uma conseqüência que contraria os fatos. Se, na verdade, houve um processo de assalariamento dos professores e uma privatização das instituições universitárias, isto não redundou na predominância da lógica de mercado em nossas escolas públicas. Muito pelo contrário, cresceu o sistema de mandarinato e do patrocínio, sendo que uma grande parte do professorado, que ganhou estabilidade por vias não acadêmicas, se vê como uma elite privilegiada que deve ser financiada pelo Estado a fim de pensar (no vazio) e ensinar (o desimportante).
Resumo
“Senhores passageiros, sejam bem-vindos a bordo de nossa aeronave. Sentimo-nos honrados em (. . .) Nosso vôo terá duração aproximada de 1 hora e 58 minutos (. . . ). ” Minha santa mãe! Duas horas de jato! Mais o tal vôo no táxi aéreo e depois não sei mais o quê. Aonde será que esse maluco do Almada vai me meter dessa vez? Eu devia ter entrado em mais detalhes no contrato desse show. Estou ficando saturado dessa baixaria. Eu, que já brilhei nos bons tempos da Record. Epa! Nem é bom lembrar muito isso. Já vai pra quase vinte anos aquilo tudo e eu jurei não entrar mais nesse tema.
A publicação de Universidade em Ritmo de Barbárie, do professor Giannotti, é uma boa oportunidade para se colocar em dia o debate em torno da competência nas universidades brasileiras. De início, para evitar mal-entendidos, destaque-se que a competência, a qualidade da produção acadêmica de ensino e pesquisa devem ser consideradas da mais alta relevância nas instituições de ensino superior, e sua busca, mediante rigorosos processos de avaliação, deve constituir objetivo permanente das universidades. Ninguém, em sã consciência, seria contra tal afirmação — que pode até tranquilizar alguns, embora seja apenas uma proposta “em tese” que precisa ainda revelar sua efetividade.
Resumo
Não há como negar que, na prática, a discussão acerca da competência enveredou nos últimos anos por vias que seriam bastante estranhas a um espectador desatento em relação às circunstâncias históricas mais próximas à política universitária, às instituições de ensino superior e às condições de trabalho intelectual entre nós.
O pensamento da CEPAL é constituído pelas contribuições à teoria e à política econômica contidas nos documentos oficiais daquela instituição. No quadro da página 10, tem-se uma visão de conjunto de seus múltiplos componentes. Seguindo uma breve referência introdutória à unidade do pensamento mencionado (item 1), apresenta-se uma síntese dos diversos aportes à teoria econômica (itens 2 a 5). Com base nesta síntese, intenta-se mostrar que a concepção do sistema centro-periferia — origem e base do pensamento cepalino — possui um caráter estruturalista, transmitindo-o a todas as teorias que o compõem (item 6).
Resumo
Sustenta-se, em seguida, que no caráter estruturalista radicam tanto os alcances quanto as limitações do pensamento em estudo (item 7). Seu mérito principal consiste em proporcionar uma descrição de como se transforma a estrutura produtiva, durante o processo de industrialização das economias periféricas, no marco de suas relações comerciais com os centros; e em conectar esta transformação estrutural aos desajustes e problemas que acompanham a expansão da indústria (as tendências ao desequilíbrio externo, ao desemprego da força de trabalho etc.)
Os padres mais jovens são os mais otimistas. Somente 9% lançam mão de uma resposta restritiva, e dos 91% que respondem sim sem reservas, nada menos que 50,3% julgam que “é muita” a influência da Igreja católica sobre a sociedade brasileira; é a mais alta proporção de respostas de alto teor dentre todas as faixas de idade. Curiosamente, o segundo grupo etário mais seguro da força social da Igreja é o de idade mais avançada, onde se registram 45% de “muita influência”.
Resumo
O ponto mais baixo está entre os padres de 46 a 55 anos, onde só 18,9% respondem “muita influência” e onde as respostas em tom menor, “alguma influência”, atingem o pico de 39,4%. Entrando o padre na faixa de idade mais avançada, passados os 55 anos, volta a crescer o otimismo, aumenta a autoconfiança, recupera-se muito da certeza de que afinal o povo brasileiro leva em sua identidade constitutiva
A história social do tango é uma travessia estranha e sutilmente irônica. Tem a forma de uma parábola que, pelos borgesianos espelhos que evoca, pode se tornar levemente inquietante. O tango nasce em âmbitos alegres, briguentos e amiúde ilegais: bordéis, cuartos de china, salões de baile, romarias de fim de semana, botecos da ribeira do Riachuelo.
Resumo
Sua música é banal e está por completo subordinada à única coisa que interessa: o dançar. Uma dança agreste e provocadora que, apesar da sua coreografia ainda rudimentar — herdada ou copiada da milonga —, consegue despertar e mobilizar secretos ritmos, escondidos hedonismos do corpo.
Resumo
Meu Deus! Preciso correr. Só peço aos meus pulmões pra não chegar atrasado. Ônibus não dá. Táxi nem pensar. Preciso presenciar essa transa. Não se pode estar em todas as vitórias e nem dizer que estava vivo quando crucificaram o Homem.
Meu Deus! Preciso correr. Só peço aos meus pulmões pra não chegar atrasado. Ônibus não dá. Táxi nem pensar. Preciso presenciar essa transa. Não se pode estar em todas as vitórias e nem dizer que estava vivo quando crucificaram o Homem. Anos depois, os idiotas pedem pra repetir o que não conseguiram entender quando aconteceu. Mas aí é tarde demais. Aconteceu assim com Jesus, Beethoven e os Beatles. Nossa! Estou exagerando
na comparação. O diabo é que estou com pressa. Parecendo até o coelho da estória que aquele tarado escreveu pra Alice do país das maravilhas.
Nas discussões preparatórias deste Congresso de Sociologia houve quem propusesse, meio jocosa, meio seriamente, que o tema geral fosse tomado de empréstimo ao livro de Daniel Bell sobre as ideologias, só que mais cruel: “o fim da Sociologia”.
Resumo
Parecia a alguns dos sociólogos do Comitê Executivo da I.S.A. que a leitura das revistas e publicações sociológicas do último decênio pouco trazia de novo, pelo menos à “Grande Teoria”. Não sem inveja, os novos tempos viram a antropologia brilhar com o estruturalismo e com a “crítica da cultura”, de Foucault, deixando os sociólogos profissionais um tanto falta de imaginação, sem ânimo sequer para as middle ranges theories.
Nascido em Tucumán, Argentina, em 1901, o economista Raul Prebisch faleceu em Buenos Aires em abril deste ano. Formado em 1923 pela Universidade de Buenos Aires, onde desempenhou-se posteriormente como professor, foi um dos organizadores e primeiro diretor-geral do Banco Central da Argentina, entre 1935 e 1943.
Resumo
Prebisch é, sem favor, um dos mais notáveis cientistas sociais deste século, e suas idéias passaram a prova da história, ao se converterem em diretrizes de política econômica postas em prática em quase todos os países da América Latina que empreenderam o caminho da industrialização.
Há algo em que se pode apostar com segurança: a morte do Mestre Prebisch não significará o esquecimento ou esmorecimento de suas idéias. Decerto, com o passar do tempo, elas não permanecerão incólumes ou sempre atuais, mas sem dúvida comporão testemunhos decisivos da evolução da América Latina na última metade do século.
Resumo
Ninguém que pretenda reconstruir a história regional poderá prescindir do constante fluxo de hipóteses e proposições que brotou do empenho de Prebisch em decifrar o curso dos acontecimentos e imaginar respostas para nossos problemas econômicos e sociais. Porque ele pertenceu, sem dúvida, àqueles que se propõem, ao mesmo tempo, interpretar e transformar o mundo em que vivem, seu legado se propagou e lançou raízes em âmbitos muito vastos, que ultrapassam os espaços acadêmicos ou institucionais.