Em que se funda a Nova República? Para os arrivistas de última hora, num pacto de elites que lhes possibilitaria sobreviver a salvo de cobranças “à la Argentina”; para os que enxergam para além daqueles pífios interesses de náufragos – a maioria da sociedade -, no desejo de alcançar uma nova forma institucional contemporânea das estruturas sociais.
Resumo
Desde os dias iniciais da Nova República, vem se assistindo à eclosão das mais diversas manifestações, mediante as quais classes, grupos e categorias sociais, abrangentes ou específicos, vêm dando o recado sobre a ordem social a que aspiram. Empresários manifestam seu repúdio ao cabresto do Estado autoritário, e todo o mundo reconhece que, assim fazendo, contribuem para a formação da nova ordem institucional; políticos tratam de limpar o “entulho autoritário”, e todo o mundo louva esse esforço de contemporaneidade; trabalhadores usam um instrumento de reivindicaçãocomo a greve e. . . surpresa, diversos setores persistem em negar que essa é uma forma de também contribuir para a formação da nova ordem institucional.
Ocioso seria repetir os números que indicam a profundidade e a extensão da crise que se abate sobre a economia brasileira. Nenhum número ou indicador a mais cumpriria a função de dramatizá-la; talvez até o contrário esteja se produzindo: a repetição dos indicadores corre o risco de banalizá-la, dessacralizá-la, algo assim como a missa em idiomas nativos fez com os mistérios da escritura latina: em português o “Deus esteja convosco” talvez não tenha a mesma força que o Dominus vobiscum
Resumo
Os prognósticos da crise, ao contrário de acentuarem o aspecto excepcional da mesma, tratam-na como uma simples crise cíclica, reversível pela prática de políticas econômicas menos ortodoxas, menos FMI, mais autônomas. O receituário para sair da crise é às vezes de uma tamanha simplicidade que parece termos entrado nela por simples acaso ou descuido.
Pós-modernidade” é até hoje um conceito pouco aceito ou compreendido. Algumas das resistências a ele podem ser atribuídas à falta de familiaridade com as obras que abrange e que são encontráveis em todas as artes: a poesia de John Ashbery, por exemplo, mas também a poesia conversacional, muito mais simples, lançada nos anos 60 como reação à ironia e complexidade do modernismo acadêmico; a reação à arquitetura moderna e, em particular, aos monumentais edifícios do International Style, bem como as construções pop e os tetos de vidro decorado elogiados por Robert Venturi em seu manifesto Aprendendo com Las Vegas.
Resumo
Uma lista como esta esclarece duas coisas ao mesmo tempo: primeiro, os casos de pós-modernismo citados acima aparecem, na sua maioria, como reações específicas a formas canônicas da modernidade, opondo-se a seu predomínio na Universidade, nos museus, no circuito das galerias de arte e nas fundações.
A partir da Segunda Guerra Mundial,ou mesmo a partir dos anos 30, podemos ver na América Latina, apesar da extrema diversidade dos países que a compõem, dois grandes períodos de expansão econômica e duas formas de dominação política seguidos de dois momentos de crise.
Resumo
Entre os anos 30 e o início dos anos 60, temos o primeiro período de expansão. No plano econômico, esse período corresponde ao processo de industrialização substitutiva de importações, que já foi exaustivamente estudado; no plano político, ao pacto populista, que representava a substituição das velhas oligarquias exportadoras por setores agrários e indústrias mais voltadas para o mercado interno.
Como tudo que é notável, o interesse de Cabra Marcado para Morrer é difícil de classificar. O filme é uma vitória da fidelidade política, e por isto emociona muito. O projeto inicial, anterior a 1964, era de filmar o assassinato de um líder camponês paraibano, de nome João Pedro, ocorrido recentemente. Os atores seriam os seus companheiros de trabalho e luta, entre os quais a sua mulher, e o local seria o do próprio crime. O golpe militar interrompeu a filmagem e dispersou a equipe, enquanto as latas com a parte já realizada do filme sumiam no reboliço da fuga.
Resumo
O cineasta não esqueceu o projeto, nem renunciou a ele. Logo que possível, quer dizer, muitos anos depois, buscou o material desaparecido. De posse dele procurou os atores, que a repressão e quase dois decênios haviam espalhado. Mostrou as fitas antigas, de que eles eram as figuras, e filmou as suas reações atuais a respeito, em que de uma forma ou outra aparecem os efeitos da ditadura e a continuidade da vida popular. O conjunto, a que se acrescentaram matéria documentária e explicações, e que traz embutido um hiato de vinte anos, formaria a obra. O diretor, Eduardo Coutinho, retomava o seu trabalho, bem como as suas alianças de classe, transformando o tempo decorrido em força artística e matéria de reflexão.
Em outubro de 1983, o governo Figueiredo conseguiu, finalmente, contornar os obstáculos políticos que dificultavam a aprovação do D.L. 2.065, fechando o círculo da estratégia recessiva. Uma lista como esta esclarece duas coisas ao mesmo tempo: primeiro, os casos de pós-modernismo citados acima aparecem, na sua maioria, como reações específicas a formas canônicas da modernidade, opondo-se a seu predomínio na Universidade, nos museus, no circuito das galerias de arte e nas fundações.
Resumo
O Congresso acabou sancionando uma política de arrocho salarial acompanhada de um importante conjunto de medidas fiscais, posteriormente completadas em dezembro de 1983 pelo D.L. 2.072. O governo parecia, finalmente, dispor dos instrumentos nas áreas fiscal, monetária e salarial capazes de promover o ajustamento exigido pelo FMI. Este fato, aliado às metas restritivas de desempenho extremamente rígidas estabelecidas para 1984, sugeriu um agravamento do quadro recessivo, que já se estendia por três anos.
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Quando a terapia não mata o doente: a recuperação da economia em 1984
Quando a terapia não mata o doente: a recuperação da economia em 1984
Inovações, ciclos e crises: o retorno de Schumpeter
Benjamin Coriat e Robert Boyer
Inovações, ciclos e crises: o retorno de Schumpeter
Benjamin Coriat e Robert Boyer (tradução de Maria Alice L. G. Nogueira)
O economista vienense é apresentado hoje como o arauto de um novo liberalismo. No entanto, ele julgava inelutáveis a decadência do capitalismo e a transição para o socialismo. Se a tradução francesa da monumental obra History of Economic Analysis de Joseph Aloïs Schumpeter1 demorou tanto a aparecer, convém ao menos admitir que ela é particularmente bem-vinda. Publicada em pleno âmago de uma das maiores crises do capitalismo, à compreensão das quais consagrou o autor uma parte essencial de sua vida, este livro vem propiciar uma reinterrogação a respeito de toda a obra de Schumpeter e de sua extraordinária trajetória dentro da teoria econômica.
Resumo
Uma vez findo o período de crescimento sustentado do pós-guerra, e com o retorno das turbulências monetárias, do desemprego em massa e das bruscas flutuações industriais, não é de surpreender que inúmeras correntes da teoria econômica contemporânea retornem a essa obra essencial com o objetivo de sondar o presente e, até mesmo, como veremos, o futuro. Assumindo o risco de uma forte simplificação, apresentaremos aqui alguns pontos-chaves da démarche de Schumpeter.
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Inovações, ciclos e crises: o retorno de Schumpeter
Inovações, ciclos e crises: o retorno de Schumpeter
Ainda não faz cem anos que o Parnasianismo dominava a cena da poesia brasileira. Esta corrente apregoava padrões de contenção e impassibilidade que atendiam a veleidades de esteticismo francogreco-latino de nossas elites. Graças à inteligência modernista, no entanto, o conceito de modernidade aqui inaugurado, e logo amadurecido pelos poetas da década de 30, pôde traduzir-se em atenção às próprias demandas do processo sócio-cultural brasileiro, multiplicando as possibilidades de representação, mas não perdendo o vínculo com a referida crise da linguagem.
Resumo
De negação em negação, desidentificando-se pouco a pouco e ambiguamente da ordem burguesa e do valor literário da poesia, a expressão poética hoje não toma qualquer distância da experiência e da linguagem cotidianas, nem mais aspira a idealizações formais. À crise da representação sobreveio agora uma radicação natural e pouco exigente no solo do cotidiano da sociedade de consumo; o que, de certo modo, explica o fato de a poesia ter emigrado para as formas antiliterárias e para as atitudes anticonvencionais, adequando-se ao ritmo antitradicionalista do mercado. Terá sua capacidade de apreensão sensível e crítica da realidade se democratizado a ponto de transformar-se em um modo de conhecimento e comunicação coletivos? Ou terá se tornado um veículo acrítico e desqualificado de expressão?
O vasto deserto de idéias e críticas, à ação da arquitetura brasileira e do urbanismo praticado no Brasil, surgem, de quando em quando, alguns remotos oásis. Neste caso, o recente artigo do professor Gabriel Bolaffi representa um alívio para quem deseja discutir os rumos da arquitetura e do urbanismo brasileiros.
Resumo
A tese central do artigo de Bolaffi consiste na afirmação de que a maior parte das chamadas profissões liberais “se constituiu e se manteve sempre à sombra, proteção e dependência do poder” (pág. 47). Para ilustrar esta tese lembra ele que mesmo dentro destas profissões existem diferenças que nascem das relações das pessoas com o poder — os profissionais “bem sucedidos”, donos de consultórios ou escritórios muito frequentados, são totalmente distintos em seu status social de seus colegas assalariados que prestam serviços em empresas públicas ou privadas. Sem o amparo do poder, aqueles ficariam “reduzidos” à situação destes. Dependem, portanto, do poder e a ele devem aliança.