Bienais: uma arte internacionalizada

Resumo

A mera existência das bienais de São Paulo, Paris e Veneza comprova antes de mais a exigência do consumo cultural de uma elite internacionalizada nos seus gostos e expectativas. Como uma casta, esta elite formada por artistas e por críticos tem em última instância nas bienais um local onde são expostas as suas obras e discutidas as suas indagações estéticas. Esta elite cultural internacionalizada, representada pelos intelectuais tradicionais, tem um padrão estético a ser difundido, não apenas para que ela se afirme nos processos de criação artística, como também para estabelecer níveis de comprometimento com a sociedade. 

A “coisa nova” e insólita torna-se instrumento agilizador da competição artística internacional promotora de um dogma tão fechado quanto outras o foram, inclusive o do realismo socialista. Este dogma pode ser definido nos termos de uma academia estética da  novidade, correspondente à arte pela arte, muito embora seus ideólogos e executores lhe apliquem a etiqueta de arte de vanguarda. Veja-se o exemplo da vídeo-arte, forma na qual o artista utiliza o recurso eletrônico da televisão para a gravação de uma fita magnética. As imagens, as cores e as formas obtêm um tipo de movimento não usual para o artista, mas essa obra existe enquanto existir um aparelho transmissor de TV. Assim: 1) o artista tem que ter acesso aos recursos eletrônicos e dinheiro para usá-los; 2) o vídeo-teipe, uma vez criado, só pode ser consumido se houver um aparelho de TV. A utilização desses recursos eletrônicos na criação artística depende portanto do nível econômico do país no qual o artista vive.