Este artigo procura identificar o papel desempenhado pelo Estado durante os anos 1990 para assegurar a satisfação das “necessidades básicas” da população pobre no Brasil. Com base em dois surveys sobre o acesso dos 40% domicílios mais pobres da cidade de São Paulo a serviços públicos e políticas sociais, demonstra-se que a atuação do Estado continua determinante e que o quadro da situação da população mais pobre de São Paulo pouco se alterou em relação aos anos 1980.
Os paralipomena à “Kreisleriana” op. 16 de Robert Schumann (1810-1856) pretendem oferecer um espaço de indagações que circunscreva a obra e a insira em seu contexto. Informações sobre o compositor, seus círculos de sociabilidade e existência, assim como do ambiente no qual ele atua são mobilizadas tendo em vista caracterizar a obra de arte musical e permitir uma primeira aproximação à fatura complexa da obra e seus variados aspectos, elementos e condicionantes. O texto é parte de um estudo mais amplo, ainda incompleto.
Este artigo faz uma análise panorâmica dos últimos cem anos na Argentina sob a ótica da batalha travada entre os intelectuais e seu público, da imposição e transformação da língua no país, das modificações no conceito de “povo” e também dos impasses relacionados a sua representação cultural e política.
O artigo analisa três filmes do cinema brasileiro de mercado em que a voz over desempenha papel determinante: Cidade de Deus, O homem que copiava e Redentor. A fala como discurso do sujeito “em situação” é vista em relação com o contexto social, marcado por tensões ligadas à violência, expansão dos mercados ilícitos, delinqüência empresarial, hegemonia do consumo e crise da instituição familiar.
Qual a relação entre “jogo de verdade” e “jogo de linguagem”? Do primeiro, aproximam-se Heidegger e Foucault, interessados seja na essência da verdade, seja na sua historicidade. Do segundo, Wittgenstein, empenhado em desvendar as condições dos enunciados. Este artigo discorre sobre as implicações desses posicionamentos, procurando enfatizar o papel que neles desempenha a questão do ser.
Entre os saberes do século XX, a teoria da relatividade de Einstein é o mais desconcertante nas mudanças que propôs de noções tidas como certas. E sua repercussão foi tão avassaladora que se acabou por negligenciar um aspecto básico: o tempo, em Einstein, é uma noção física. Nesse sentido, Einstein é um pensador moderno, se por moderno se entende o pensamento que procura fundamentar-se e criticar-se a partir de seu próprio domínio. É na sua modernidade, também caracterizada por um pensamento que caminha por hipóteses abertas à crítica, que a física de Einstein encontra um denominador comum com outros saberes modernos.
O artigo acompanha a recepção da obra de Machado de Assis no Brasil e no exterior. Em confronto com a noção corrente de “universalidade”, demonstra-se o prejuízo estético contido na opção de ignorar as particularidades locais formalizadas pelo autor.Com base na crônica “O punhal de Martinha”, procura-se demonstrar a complexidade e a tensão da dialética entre local e universal sugerida pela obra machadiana.
Este artigo retoma o processo que culminou na chegada do Partido dos Trabalhadores ao governo federal. Em síntese, descreve como os primeiros anos da administração petista, calcada no continuísmo em relação ao governo anterior, relacionam-se a um contexto mais amplo marcado por bases classistas em decomposição, populismo emergente, predominância do capital financeiro, estatização dos partidos e da política e privatização da economia e da vida.
Multidão, livro mais recente de Michael Hardt e Antonio Negri, é uma tentativa de nomear e compreender as condições que envolvem a dinâmica social do século XXI. Na entrevista a seguir, Hardt e Negri discorrem sobre as possibilidades de constituição da multidão como agente político, discutem os fundamentos do livro e defendem conceitos que consideram determinantes para a compreensão dos novos tempos, tais como biopolítica e biopoder.
Em oposição à visão de Durkheim, para quem a religião atua como religação dinamogênica do indivíduo com a sociedade a que pertence, este ensaio sustenta que hoje a força social da religião está na capacidade de dissolver antigas pertenças e linhagens religiosas estabelecidas. Com base na obra de Max Weber, argumenta-se que a religião universal de salvação individual, forma religiosa que tende a predominar sobre as demais, funciona como um dispositivo que desliga as pessoas do contexto cultural de origem.
Publicado em francês no segundo número da revista Habitat (São Paulo, 1951), com fotografias de Pierre Verger, “Variações sobre a porta barroca” é um ensaio que sintetiza linhas de força da obra de Roger Bastide. Com foco em igrejas da Bahia e de Pernambuco, o autor tece formulações iluminadoras sobre a função sociológica da porta e, por extensão, da ornamentação no barroco brasileiro.