O tema da classe operária sob sua forma clássica saiu de moda. Quase já não há estudos com preocupações generalizantes, voltados para as questões da formação do proletariado, da sua inserção no sistema sócio-político, das formas organizatórias convencionais (sindicatos e partidos), dos movimentos sociais ostensivos – com a greve em primeiro lugar -, das grandes linhas ideológicas.
Resumo
Além disto, a classe operária foi incorporada como objeto conspícuo de estudo acadêmico, dando lugar a outros setores sociais como vadios, criminosos feiticeiras, em vias aliás de rápida nobilitação. As fronteiras entre o público e o privado se confundiram. Pouca gente sustentaria hoje que o estudo do gesto, do traje, do “sentimento” mais do que das “mentalidades” não tem uma profunda significação social. Quando o tema da classe trabalhadora aparece em cena, o recorte se ajusta às novas inclinações.
A psicanálise “anda na moda”. Ninguém, mesmo que afastado dessa disciplina, poderá negar esse fato. O volume de publicações sobre o assunto já é, por si, um indicador bastante seguro. Multiplicam-se cursos, palestras e conferências sobre o tema. Pela primeira vez, ao que me consta, foram criados cursos específicos e oficiais sobre psicanálise nas universidades brasileiras (no Rio de Janeiro e na Unicamp) deixando esta disciplina de ser um capítulo, frequentemente mal dado, dos cursos de psicologia e ad usum delphini. Nunca se falou tanto em Freud, M. Klein e Lacan. Modismo? Provavelmente. Ao existencialismo sucedeu o estruturalismo (só para falar nas escolas mais recentes) e a este último parece ter sucedido o freudismo.
Resumo
Meu propósito neste texto não é analisar nem criticar nenhuma dessas três posições. Além de ser uma tarefa simples, ela já foi feita, e bem feita. Minha intenção é outra. Gostaria de mostrar como uma vertente, profundamente embebida no discurso filosófico, levou, por fim, a uma releitura em profundidade da obra de Freud, inaugurando a era sob a qual estamos vivendo.
Constatamos, sem dificuldade, que, entre os discursos políticos contemporâneos, ganham importância aqueles que apelam para um aumento da participação. De modo quase sempre impreciso, este apelo aparece com uma conotação ética em que o despertar da consciência de cidadania permite estabelecer um mecanismo regulador das disfunções dos sistemas políticos, sejam eles democráticos ou autoritários.
Resumo
A participação, que supõe clareza de interesses e ação coletiva defensiva ou inovadora, aparece nas propostas políticas democráticas como o único instrumento disponível para a manifestação legítima daqueles que recebem o impacto das decisões governamentais e que desejam que sua voz seja ouvida. Mas nem sempre o elogio da mobilização massiva foi bem recebido. Estes apelos contavam com a desconfiança daqueles que preferiam delimitar com clareza a esfera da prática política e que consideravam a militância empolgada como um perigo para a democracia.
“Todo autor que se preza, quando pega a caneta, quer indicar entre outras coisas a hora histórica.” Se esta afirmação, feita recentemente por Roberto Schwarz (entrevista, Folha de S. Paulo, 8/11/87), pode parecer estranha para o leitor habituado às atuais divagações pós-modernas, ela descreve perfeitamente o projeto do movimento “existencialista” nascido no pós-guerra francês. É justamente procurando “indicar a hora histórica” que a “ofensiva existencialista”, conforme expressão de Simone de Beauvoir, irrompe na cena intelectual francesa daqueles idos de 40.
Resumo
Colhidos pelo turbilhão avassalador que a “força das coisas” desencadeara, os “existencialistas” são, por assim dizer, levados à descoberta do mundo. O resultado desse processo de politização (e de radicalização) acelerada é uma vigorosa tentativa de historicizar ou de “mundanizar” a filosofia (a filosofia deve “tornar-se mundo”, segundo Sartre) e, conseqüentemente, a recusa daquilo que Simone de Beauvoir chamou de “velho idealismo tradicional dos universitários franceses”
Uma professora alemã que viveu no Brasil no último quartel do século XIX registrou, em correspondência vazada com muita ironia, os paradoxos de sua estada nos Trópicos. Numa das cartas enviadas, para sua terra natal, Ina von Binzer faz uma observação verdadeiramente surpreendente: no Brasil não há florestas!
Cinco cenas de leitura escolhidas meio ao acaso no repertório pictórico brasileiro produzido entre a década de 90 do século passado e os anos 40 deste século e que chamam a atenção, se observadas com olhos de hoje, por um possível anacronismo. Pela configuração da imagem de um leitor geralmente atento, mas em quase repouso, mais condizente com a fruição-sem-choque característica da primeira metade do século XIX do que com a pressa, a tensão, o diálogo próximo ao duelo, as descontinuidades e a perda de homogeneidades e referências constantes entre a produção literária e seu público, que marcam o período de fixação de um olhar crítico e a situação — bem pouco distensa — de leitura nos tempos modernos
Resumo
As três primeiras cenas em questão pertencem à obra do pintor paulista Almeida Jr. Numa delas, bastante conhecida (A Leitura, de 1892), vêse, numa varanda, uma mulher jovem recostada numa cadeira de madeira escura — pernas meio estendidas, trança quase desfeita, costas voltadas para o exterior da casa — lendo, solitária, sem pressa, sem qualquer interferência aparente nessa atividade em que parece poder concentrar continuadamente toda sua atenção.
De algum tempo para cá, sociólogos e filósofos têm mostrado uma tendência para classificar a sociedade atual como “pós-industrial” ou “pósmoderna” 2. Por mais compreensível que seja o desejo de destacar o presente da era do capitalismo avançado, os termos escolhidos também são problemáticos. Uma nova época se instaura antes que se chegue a formular – quanto mais resolver -a questão de quão decisivas são as alterações sociais do momento, e se seria o caso de estabelecer-se uma nova fronteira de época.
Resumo
Malgrado essa objeção genérica ao conceito de “pós-moderno”, é difícil negar que nestes últimos vinte anos, na sensibilidade estética das camadas que eram e são portadoras da alta cultura, observaram-se os seguintes fatos: uma atitude positiva em relação à arquitetura fin de siècle e, daí, uma avaliação essencialmente mais crítica da arquitetura moderna 3; atenuação da rígida dicotomia entre arte superior e arte inferior, que Adorno ainda considerava inconciliavelmente opostas4; uma reavaliação da pintura figurativa da década de 20 (na grande exposição de Berlim em 1977, por exemplo); uma volta
ao romance tradicional, mesmo por representantes do romance experimental.
O elevadíssimo (e raro) grau de consenso nacional contrário à criação das chamadas Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) não parece ter sido suficiente para dissuadir os principais proponentes ostensivos da idéia, vinculados ao Ministério da Indústria e Comércio (MIC). Continua a existir uma grande possibilidade de que as ZPEs sejam criadas, mediante decreto-lei presidencial, durante o atual governo.
Resumo
De acordo com o figurino do MIC, esboçado numa exposição motivos e numa minuta de decreto-lei (datados de fins de outubro), as ZPEs seriam verdadeiros enclaves implantados no Norte-Nordeste do país. Nesses enclaves, as importações não teriam cobertura cambial e seriam livres de quaisquer impostos, tarifas ou controles não tarifários (como exames de similaridade e barreiras administrativas).
Já pensei jogá-lo fora e desisto, receio não ter força ou ele não passe pela porta. Às vezes lamento a indecisão, que me obriga ao exercício penoso de recolher as pernas e me dobrar sobre a mesa para escrever. O esforço é tamanho que às vezes me estico quase inteiro sobre ela, a ponto de ficar assim um tempo incalculável, imóvel, para descansar.
Em um empreendimento deste gênero, só se pode escolher entre duas opções: adaptar o museu ao monumento ou adaptar o monumento ao museu. A primeira pode conduzir ao fracasso. É o que se vê hoje no Museu do Homem, no Trocadero. No Orsay, optou-se, com enormes pretensões, pela segunda direção, mas nem por isso com maior êxito. Acontece que há monumento e monumento; tudo depende de seu mérito.
Resumo
Ao não considerar a Estação d’Orsay como um lugar consagrado mas como uma carcaça vazia onde se podia construir qualquer coisa, esqueceu-se que a nave, as laterais, as grandes vidraças e as cúpulas de Laloux eram os primeiros objetos que deveriam ser expostos. Os arranjos internos procuraram sistematicamente a ruptura, quando todas as obras pediam uma apresentação que as colocasse em harmonia com o edifício; harmonias diferentes segundo os gêneros e os períodos, é certo, mas que com um pouco de tato e gosto, poder-se-ia obter.
Com a onda de liberalismo econômico que vem varrendo diversos países nesta década de 80, alguns técnicos do governo resolveram desenterrar a idéia das plataformas de exportação – paraísos fiscais e cambiais para o capital estrangeiro na produção de manufaturados para exportação adotados pelos países do Sudeste asiático na década de 60 – e lançar sua versão brasileira: as Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs).
Resumo
Como vem sendo bastante estudado1, o excelente desempenho destas economias nos últimos 25 anos é o resultado, de um lado, de uma combinação feliz de fatores externos e internos, que vão desde reforma agrária após a ocupação japonesa, ao fim da II Guerra Mundial, e ajuda econômica americana até o crescimento do comércio mundial, neste período, em nível sem precedentes. De outro lado, deve-se principalmente às políticas industriais escolhidas.