Alice Miceli
Rio de Janeiro, RJ, 1980
Vive e trabalha no Rio de Janeiro e em Nova York
Formou-se em cinema pela École Supérieure d’Etudes Cinématographiques, em Paris, em 2002. E, em 2005, completou pós-graduação em história da arte e arquitetura na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, que cursou em paralelo a estudos com Charles Watson na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Alice trabalha principalmente com vídeo e tecnologias fotográficas experimentais, explorando manifestações virtuais, físicas e culturais de acontecimentos sociopolíticos extremos, ao mesmo tempo que investiga a história e o uso contínuo dessas mídias. Desenvolveu projetos sobre o arquivo de prisioneiros da Prisão S21, no Camboja, e sobre a Zona de Exclusão de Chernobyl. Atualmente, finaliza um novo projeto fotográfico sobre o espaço de campos minados em diferentes regiões do mundo ainda intensamente afetadas por esse problema – como áreas do Camboja, da Colômbia, da Bósnia e de Angola – a ser exposto em maio de 2019 no Espaço Jacarandá/Instituto Pipa, na Villa Aymoré (Rio de Janeiro).
Alice participou de exposições como The Materiality of the Invisible, Marres, House for Contemporary Culture (2017); Basta!, John Jay College (2016); Intersections: After Lautrémont, Cisneros-Fontanals Art Foundation, Miami (2015); XXIX Bienal de São Paulo (2010); e teve trabalhos apresentados em festivais como o Japan Media Arts Festival, Tóquio (2014); TRANSITIO_MX Festival, Cidade do México, (2009); transmediale, Haus der Kulturen der Welt, Berlim (2005, 2007, 2008), entre outros. Recebeu bolsas de residência da MacDowell Colony, em Peterborough (2013); da Bogliasco Foundation, em Genova (2014); da Maison Dora Maar, em Menerbes (2014); da Jan Van Eyck Academie, em Maastricht (2016); do Mejan Program, da KKH Royal Academy of Arts, em Estocolmo (2016); do NTU CCA Centre for Contemporary Art, em Cingapura (2017), e da Yaddo Artist Colony, em Saratoga Springs (2018), entre outras. Alice foi ganhadora do Prêmio PIPA do júri e do público em 2014, e contemplada em 2015 pelo Programa de Bolsas e Comissões da Cisneros-Fontanals Art Foundation, de Miami. Para 2019, além da individual na Villa Aymoré, no Rio de Janeiro, Alice prepara também uma individual na Americas Society, em Nova York.
SOBRE O ENSAIO VISUAL PARA A EDIÇÃO 112 DA NOVOS ESTUDOS
O projeto Em profundidade (campos minados) é uma investigação visual acerca de espaços que permanecem ocupados por minas terrestres e outros explosivos remanescentes de guerras (ERW), em áreas do Camboja, da Bósnia, da Colômbia e de Angola.
Minas terrestres e ERW são resíduos de guerra, armas localizadas para matar e mutilar, continuando ativas mesmo décadas após o término de um conflito. São remanescentes de uma lógica cruel, indiferente à experiência vivida de um lugar, utilizadas como ferramentas de conquista territorial. Há uma estimativa de 100 milhões de minas espalhadas por setenta países e de que a cada duas horas alguém seja morto ou ferido em decorrência disso. Em algumas regiões do Camboja ou de Angola, por exemplo, o número de minas supera o de pessoas, silenciosamente transformando paisagens inteiras em espaços eternamente impenetráveis.
Em busca dessas lacunas criadas pela ação do homem, decidi estar presente, olhar e representar essas paisagens problemáticas na medida em que o que nelas é impenetrável se estabelece na própria profundidade do campo a ser atravessado e capturado na imagem. Como se, contra esses remanescentes de uma ordem bélica e desumana destinada a ocupar território, pudesse ainda haver algum tipo de contra-alinhamento possível; uma maneira de olhar, habitar e reivindicar esses intervalos de terra há muito perdidos e negativamente ocupados.
Para a Novos Estudos, pensei em uma seleção de imagens que complementam essa ação, documentando o entorno, a minuciosa tarefa de mapeamento e desminagem nos campos minados das províncias de Malanje e Uíge, em colaboração com a ONG de desarmamento humanitário NPA – Norwegian People’s Aid, em Angola.