O artigo examina as relações entre o tráfico negreiro transatlântico para o Brasil, os padrões de alforria e a criação de oportunidades para a resistência escrava coletiva (formação de quilombos e revoltas em larga escala), do final do século XVII à primeira metade do século XIX. Valendo-se das proposições teóricas de Patterson e Kopytoff, sugere uma interpretação para o sentido sistêmico do escravismo brasileiro na longa duração, sem dissociar a condição escrava da condição liberta, nem o tráfico das manumissões.
Com foco nos livros O espírito das roupas e A idéia e o figurado, este artigo procura analisar a trajetória intelectual da ensaísta Gilda de Mello e Souza (1919-2005). Mostra-se como a autora mobilizou fontes diversas, sejam do âmbito da história, da sociologia, da antropologia ou da estética, para compor uma obra rica em pontos de vista inesperados e avessa a academicismos, adensando o foco analítico sobre os objetos analisados.
Propõe-se, neste artigo, refletir, com base no conceito de ritual e em registros etnográficos, sobre os atos de campanha eleitoral realizados nas metrópoles do Nordeste do Brasil. O argumento básico considera que os atos de campanha articulam relações de proximidade entre o que se nomeia de política e os eleitores, viabilizando a apresentação de concorrentes e redefinindo pactos sociais que validam os princípios da representação política.
Crítica A PLAGUE UPON HUMANITY: THE SECRET GENOCIDE OF AXIS JAPAN’S GERM WARFARE OPERATION de Daniel Barenblatt. Londres: Souvenir Press, 2004, 260 pp.
O artigo discute a noção de que a persistência de práticas políticas “tradicionais” enfraquece a democracia no Brasil.Com base em estudos de caso realizados em três municípios administrados pelo PT entre 2001 e 2004 – São Paulo,Porto Alegre e Itabuna (BA) -, o autor examina o espaço entre o “tradicional” e o “moderno” e argumenta que um processo de democratização bem-sucedido não erradica práticas como o clientelismo e a patronagem,mas tende a incorporá-las e a edificar-se a partir delas. Sustenta ainda que a democratização da política municipal em países como o Brasil está inextricavelmente ligada à redução da pobreza e à implantação de uma efetiva rede pública de assistência social.
Este artigo analisa os dados sobre fecundidade no Brasil apresentados na PNAD 2004, que confirmou a tendência de queda. Sustenta-se que, nos próximos anos, reduções possam ocorrer nos segmentos menos favorecidos da população, responsáveis pelas mais expressivas quedas no número médio de filhos por mulher.
Em meados da década de 1970, a artista plástica Mira Schendel toma conhecimento da fenomenologia de Hermann Schmitz, que influencia sobretudo seu último período de criação. As formulações de Schmitz negam tanto o dualismo platônico, que dividiu o ser humano em corpo e alma, como o entendimento positivista da ciência. Na entrevista transcrita abaixo, o filósofo apresenta os aspectos de seu pensamento que mais se aproximam da obra da artista.
A esquerda costuma vencer as eleições no Brasil, mas não governa. Para sustentar o argumento, este artigo repassa os conceitos de direita e esquerda, definindo os grupos políticos de esquerda pela disposição a arriscar a ordem em nome da justiça social. Em segundo lugar, argumenta que, nas democracias modernas, não há inconsistência entre uma coalizão de esquerda e o capitalismo. Por fim, mostra como na experiência brasileira a esquerda de fato vence as eleições, mas não governa.
Esta conferência problematiza o papel dos mutirões no contexto das estratégias para a habitação no Brasil. Argumenta-se que o processo de autoconstrução não deve ser estimulado ou transformado em política pública, pois depende de trabalhadores desempregados e não contribui para a criação de um mercado imobiliário.
Conforme formulado por Weber, a força secularizadora da ética protestante teria promovido uma forma subjetivada de experiência religiosa. Da mesma maneira, a reforma protestante teria aprofundado o processo de diferenciação das esferas político-econômico-científicas em relação à religiosa, o que retiraria definitivamente a religião do espaço público. À luz de dados relativos ao campo religioso brasileiro, são essas as duas premissas discutidas neste artigo. Em vez de admitir como um pressuposto a privatização da prática religiosa, trata-se de identificar as configurações específicas que as formas religiosas assumem em cada sociedade.
Pode-se identificar duas importantes diferenças de perspectiva entre o pragmatismo de Charles S. Peirce, William James e John Dewey e o neopragmatismo de Richard Rorty. Em primeiro lugar, a filosofia pragmatista pode ser compreendida como realista, ao passo que o neopragmatismo rortyano é eminentemente anti- realista. Em segundo lugar, Rorty minimiza a importância do conceito pragmatista de experiência ao conferir primazia teórica ao conceito de linguagem. Em face dessas duas diferenças fundamentais, o artigo discutese é possível falar em continuidade entre os elementos que caracterizam o pragmatismo em sua origem e o neopragmatismo rortyano.
A partir dos dados da PNAD 2004, este artigo aponta alterações no consumo entre a população pobre das regiões metropolitanas brasileiras. Sugere-se que a discrepância entre o aumento do número de pobres e a melhora dos padrões de consumo relaciona-se a um conjunto de transformações estruturais profundas, associadas ao papel das políticas públicas, a variações na estrutura de preços, a mudanças no tamanho da família, à transformação do papel da mulher e a maior oferta de crédito.